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O Patriarca de Constantinopla e o fim da Igreja Católica

A CNN tem trazido nas últimas semanas uma série de reportagens sobre o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, da Igreja Ortodoxa.

Até o século XI, o Patriarcado de Constantinopla rivalizava em prestígio e poder com Roma, a tal ponto de ter ocorrido o Cisma do Oriente em 1054, quando a Igreja do Oriente passou a não reconhecer a autoridade do Papa. Não cabe aqui discutir as razões do cisma e nem a questão de até onde vai, e até onde ia naquele momento, a autoridade do Papa. O que chama a atenção é que o outrora tão poderoso e forte Patriarcado de Constantinopla corre risco de extinção. Constantinopla, hoje Istambul na Turquia, antigamente Império Romano do Oriente e depois Império Otomano, tem uma comunidade de apenas 3.000 católicos ortodoxos. O país é de esmagadora maioria mulçumana e diversos conflitos entre a Turquia e a Grécia levaram o governo turco a adotar políticas cada vez mais duras contra a população de origem grega, que constitui a maioria dos católicos e que hoje aos poucos está deixando o país. A comunidade católica de Istambul que foi fundada pelo Apóstolo André corre simplesmente o risco de desaparecer.

Esse fato nos chama à reflexão sobre alguns pontos importantes para o futuro da Igreja Cristã nas próximas décadas. O primeiro ponto é a importância da liberdade religiosa. Quando o Ocidente se considerava católico, não nos fazia sentido pensar no valor da liberdade católica. Mas com a diminuição do número de fiéis praticantes, o surgimento de governos de orientação laicista e os islamismo radical e político no Oriente, pode ser perigoso para as futuras gerações de cristãos serem minorias desorganizadas. No ápice do racionalismo e do desenvolvimento econômico do século XIX surgiram o facismo, o nazismo e o marxismo. Nunca se pode desprezar a capacidade do coração humano criar catástrofes, mesmo quando as coisas vão aparentemente bem. E a minoria odiosa do futuro podemos ser nós, nossos filhos e netos, se não pararmos a campanha de difamação diária feita pelos meios de comunicação contra os cristãos.

Muitos cristãos são mortos quase semanalmente na Índia, no estado de Orissa, por conta do governo nacionalista hindu, na Nigéria e no Sudão há conflitos com o estado mulçumano.

Os católicos devem fazer valer sua força internacional para pressionar as autoridades a garantirem a liberdade de culto conquistada com o sangue de tantos mártires. Não prestamos atenção para o fato de que a morte de cristãos é uma das maiores tragédias silenciosas do novo milênio. É urgente que nos unamos neste sentido para fazer valer esse direito para nós e para os irmãos de outras religiões. Não há paz verdadeira para um coração sem fé.

Outro ponto importante de reflexão é pensar qual o futuro da Igreja Latina, vendo o que ocorre com nossos irmãos ortodoxos. Nos tornaremos de fato uma minoria absoluta? Será Roma realmente rodeada de mesquitas?

Primeiro que não podemos tratar um problema demográfico, como um problema de fé. A pergunta que devemos nos fazer sempre não é quantos somos, mas quanto nos amamos. Afinal, a conversão, a fé e a adesão à Jesus Cristo é sempre um encontro e depende da abertura e da liberdade do outro. Por outro lado, é importante não sermos ingênuos quando estamos sendo sistematicamente expulsos de nosso espaço na sociedade. Como o Papa Bento XVI aponta, é necessária uma política de reciprocidade. Liberdade religiosa nos países de maioria católica e também onde somos minoria. Queremos liberdade para pregar e evangelizar. E nisso temos sido negligentes. Ingenuamente, não percebemos quando minorias organizadas que não representam a população, que não são democráticas e estão carregadas de desprezo pelo cristianismo propõe leis contas o nosso direito de constituir famílias, contra nossa liberdade de expressão e distorcem a história para nos colocar como culpados de todas dificuldades da humanidade. Não sejamos ingênuos. Quem age assim, cumpre a palavra que diz que somos enviados como ovelhas no meio de lobos.

Um último ponto importante para reflexão é o significado espiritual de tudo isso. Sendo pequenos, frágeis e expostos a todos os perigos, crescemos na verdadeira humildade. Não temos mais as espadas que mancharam tanto a história do cristianismo e nem mais o poder com o qual tanto se corromperam. Temos apenas aquilo que o Senhor nos deixou: Ele mesmo. Essa lenta e dolorosa purificação pode tornar o rosto da Esposa de Cristo mais límpido e belo. Talvez estejamos sendo purificados para que num segundo momento, para que quando a sociedade perdida, dispersa, pulverizada, se sentir necessitada de Cristo, tenhamos o que oferecer. Afinal, aqueles que deixam a Igreja também estão deixando toda forma de compromisso e coesão social. A sociedade ocidental não está em crise com a Igreja, mas consigo mesma. Está se esfaleçando com o individualismo, o consumismo e a futilidade. Uma Babel moderna.

Paralela a um Pentecostes moderno da Igreja. Com novo ardor missionário e novo impulso de diálogo entre cristãos. O Patriarca Bartolomeu fez um comentário sobre esse momento de crise dizendo que "nada une mais os corações do que a dor compartilhada". Esperamos que esta dor una novamente a Igreja de Cristo em um só rebanho.

Não tenhamos medo dos tantos que deixam a Igreja, estejamos prontos e com a casa limpa para quando eles voltarem, para os recebermos com alegria.

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