Archive for maio 2016

CORPUS CHRISTI: o Corpo e o Sangue de Cristo


Agora que alguns ainda retomam as atividades depois do feriado, seria interessante saber o que afinal se comemorou. 




Todos os anos, 60 dias depois da festa da Páscoa, que no calendário dos católicos ocidentais é sempre aos domingos, celebra-se a festa de Corpus Christi numa quinta-feira. Mas afinal, o que significa essa festa?


Em 1264, Santa Juliana Cornillon, uma monja católica belga teve uma visão na qual ela via uma lua cheia, muito bonita, com uma faixa transversal preta. Perguntando-se sobre o significado daquilo, o próprio Deus lhe disse que a lua representava as festas do calendário litúrgico da Igreja (Páscoa, Pentecostes, Natal...) e que a faixa preta significava que faltava algo, uma festa para celebrar a Eucaristia. 

A Eucaristia consiste em um pedaço de pão, usualmente um pequeno círculo branco, feito de farinha e água, que depois de consagrado dentro da Missa, é o próprio Corpo e Sangue de Jesus Cristo. E que é, na última parte da Missa, distribuído aos fieis e comungam, isto é, comem, e adoram, por se tratar do corpo do próprio Cristo. Não se trata de um símbolo. 

Quando Jesus disse, isto é o meu corpo, disse com tanta clareza que os presentes chegaram a pensar que se tratava de canibalismo. E São Paulo ainda perguntava aos fieis se "não é verdadeiramente o Corpo e Sangue de Cristo que comungamos?"Soma-se a isso o fato do próprio Cristo ter dito aos seus apóstolos que "toda vez que estiverem reunidos em meu nome, fazei isto em minha memória". Assim, a Eucaristia é o centro do culto cristão e documentos do século II apontam para a celebração da Missa com a mesma estrutura que se celebra até hoje. 

A presença real de Cristo só é questionada vigorosamente depois da Reforma Protestante no século XVI e mesmo assim, os luteranos, uns dos primeiros a romperem com a fé católica não têm uma opinião clara a respeito. Alguns creem algo muito próximo ao que crê o catolicismo e alguns de que se trata algo meramente simbólico (X). Aos poucos, novos protestantes foram relegando a Eucaristia para algo meramente simbólico, e depois a própria Eucaristia, ou Santa Ceia, para algo esporádico. Os católicos ortodoxos que romperam com o catolicismo romano no século XII conservam a mesma fé. 

Voltando à visão da monja, não bastasse este fenômeno sobrenatural que ela havia vivido, outro fato veio se somar para a instituição da festa de Corpus Christi. 

Na cidade de Bolsena na Itália, pela mesma época, um padre enfrentava dúvidas de fé em relação à Eucarístia. Durante a Consagração, eis que ocorre um grande milagre, a hóstia começa a verter sangue, manchando os paramentos utilizados e o piso da igreja de Santa Cristina em Bolsena. Ainda hoje se pode ver nessa igreja as manchas de sangue no piso de mármore.

Há alguns quilômetros dali se encontrava o Papa, que foi avisado e foi ver o milagre pessoalmente. Ele mesmo guardou a relíquia em uma Catedral e este evento colaborou consideravelmente para a instauração da festa de Corpus Christi. 

Muitos outros milagres eucarísticos ocorreram ao longo da história da Igreja e outro bastante mencionado é o milagre eucarístico de Lanciano, na Itália no século VIII. Assim como em Bolsena, um padre em crise de fé vê a hóstia consagrada se converter no Corpo e Sangue de Cristo, que ainda hoje se conserva e pode ser venerado pelos fieis em Lanciano.

Pesquisas científicas na década de 70 confirmaram tratar-se de carne do miocárdio de um homem vivo. 

Um site chamado Ceticismo,net (X) alega que o milagre é uma fraude e que o médico indicado nos sites católicos trata-se de um economista. Bem, o site que se alega científico sequer checou as fontes católicas ou as publicações especializadas de medicina, aliás há citações cruzadas até no Google Books. E, embora admita que talvez se trate de fato de um pedaço de carne, não explica como um pedaço de carne exposto por tanto tempo (ou ainda que fossem algumas semanas) não se decompôs ou deteriorou para além do estado em que se encontra.

E como bom investigador não se perguntou como as pessoas acreditaram em um médico falso, atribuído a uma faculdade famosa. Sendo o milagre de domínio público, os professores de Siena não poderiam facilmente desmentir a existência de tal professor? O site sequer entrou em contato com a igreja que custodia a relíquia pedindo documentação e etc, o que poderia ser feito via email. 

http://ceticismo.net/religiao/grandes-mentiras-religiosas/o-milagre-de-lanciano-desmascarado/

: Quad Sclavo Diagn. 1971 Sep;7(3):661-74. Links[Histological, immunological and biochemiccal studies on the flesh and blood of the eucharistic miracle of Lanciano (8th century)]
http://joinville.blog.arautos.org/2014/06/santa-juliana-de-cornillon-e-a-festa-de-corpus-christi/

http://www.patheos.com/blogs/unreasonablefaith/2009/05/catholic-presents-evidence-for-eucharist-transformation/


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AMORIS LAETITIA: a alegria no casamento

Ou sobre a grande, imensa, alegria do casamento




Bem, eu ainda não li o texto completo da Amoris Laetitia. Mas os trechos que li, a postura do Papa Francisco de maneira geral nos últimos anos e os comentários de alguns amigos me levaram a refletir sobre as razões que me levaram a me casar, lembrar as razões que me fizeram escolher esse caminho.

Caminho que há alguns anos atrás era tão estranho quanto é hoje para a maioria das pessoas (e não me refiro só a jovens e adolescentes). Afinal, o que faria dois jovens em pleno juízo, pelo menos assim achávamos, rs, escolher aguardar o casamento para viverem mais intimamente juntos e depois, sem muito dinheiro, escolher logo ter filhos. E agora, quase 7 anos depois, já são 3! Uma bela escadinha, rs.

É claro que nem tudo saiu como o planejado, mas, em linhas gerais, fomos mais do que atendidos até aqui nos objetivos que traçamos. Estamos mais felizes do que queríamos, ou achávamos possível alguns anos atrás. Não por que não tivemos dificuldades. Tivemos e temos muitas, mas as temos vencido todas juntos.

Não havia nenhuma pressão social para que agíssemos assim, pelo contrário, mesmo nos ambientes religiosos, não era incomum nos encontrarmos contra a corrente. Mas de maneira geral, as pessoas mais admiravam do que criticavam.

E essa discussão é particularmente importante no contexto atual, nas chamadas "cultural wars" pela mídia católica americana, em que se travam batalhas acerca da redefinição dos conceitos ligado ao casamento e à sexualidade humana.

Pensando sobre o assunto percebi que nenhuma regra me motivou a agir assim. O que me motivava era o amor que eu havia experimentado e o Cristo que havia encontrado. Diante de tanto amor, de tanta beleza, eu não conseguia conceber outra forma de me envolver com alguém, se não por uma entrega completa, radical, inteira.

Se não fosse assim, eu me sentiria covarde, traindo o amor que tinha visto e experimentado. E simplesmente não queria. Por que buscar o segundo melhor, quando o primeiro é tão superior e as outras opções nem lhe chegam aos pés em termos de felicidade e satisfação?

Acho que é comum as pessoas caírem em dois erros: o primeiro é imaginar que a felicidade consiste em não ter dificuldades. Pelo contrario, a felicidade consiste em vence-las com gosto, com alegria e com vigor!

O outro é não acreditar que seja possível. E acho que este seja o erro mais comum. As pessoas simplesmente não acreditam que seja possível que duas pessoas possam realmente se amar inteiramente, serem fiéis uma à outra e serem felizes. Mas podemos. Da maneira certa, podemos. E se não acreditarmos nisso, como poderíamos suportar as batalhas de cada dia, quem é que consegue sustentar uma guerra diária para no final das contas ter apenas uma felicidade possível, ou uma alegriazinha? Quem consegue se motivar dessa maneira? 

Não é de estranhar que, entre os que pensam assim muitos tombem pelo caminho.

Acredito ainda que há muito a ser dito ainda sobre o casamento. Há mistérios na Igreja que vão se revelando aos poucos, vejamos o dogma da Imaculada Conceição, por exemplo. A Igreja o intuía muitos séculos antes, os franciscanos já falavam abertamente dele pelos anos 1200, mas a Igreja só o proclamou no começo século XIX, e pouco depois a própria Virgem Santíssima o confirmou.  Não seria assim com o casameto? Um mistério a ser revelado, e até purificado, pela crise que vivemos?

O casamento talvez seja o menos estudado dos 7 sacramentos. São Paulo diz que o casamento é imagem, sinal do amor entre Cristo e a Igreja, Cristo esposo da Igreja e esposo de cada alma como se fosse a única criatura do universo. Esposo da minha alma e de todos os que foram remidos pelas águas do batismo. 

Para além da geração de filhos e da segurança dos membros, a família é o sinal no tempo de um amor eterno e infinito, os esposos espelham a grandeza e a solicitude do amor Divino.

O casamento é ainda uma via de purificação e de expiação. Os esposos se purificam mutuamente de seus defeitos e suas fraquezas para assumirem a imagem de Cristo, até que já não sejamos nós que vivamos, mas Cristo que viva em nós. 

Eu me pergunto: se não fosse a minha esposa, eu não estaria atolado em um lamaçal de egoismozinhos e fraquezas? Com os filhos, quanta força encontrei em mim! Quanta coragem! São eles a minha força e a minha coragem. Sim, é claro que tenho meus defeitos, mas como sou melhor por causa deles!

Talvez algumas pessoas lendo este post achem que sou ingênuo. Ou que esteja mentindo. Obviamente não estou mentindo e à acusação de ingênuo, diria que não, mas que gostaria muito que eu fosse, na verdade, completamente inocente. Como alguém que deseja as coisas sem mancha e que não aceita comer um banquete misturado com lama, que penso que é como devemos desejar todas as coisas, inteiras. 

É verdade que nem sempre nossa vida segue assim um caminho reto, claro, na maioria dos casos é cheia de idas e vindas, com curvas, obstáculos, avanços e retrocessos, como os rios chineses, tortuosos antes de chegarem ao mar, como ouvi esses dias. Eu tenho muitas coisas de que já me arrependi amargamente. Mas o que seria do rio se desistisse de chegar ao mar? Ou deságua em um rio maior ou vai ao mar, mas é preciso ir em direção ao maior, ao mais perfeito. Não sejamos nós como o único rio do mundo que termina em um deserto.

O casamento bem vivido é caminho firme, é chão sólido, não é um equilíbrio numa corda bamba, se acreditarmos e nos confiarmos àquele que tem sabedoria para governar bem os corações.

Eu poderia escrever sobre técnicas de gerenciar conflitos, tolerar uma vida medíocre ou aceitar eternas fraquezas. E isso não quer dizer que não as tenhamos. Ou poderia escrever sobre regras morais. Mas seria mentira. O que me faz feliz não é nenhuma dessas coisas, apesar da importância que também têm. 

É um levantar sempre na direção dAquele que me ama, e pode governar meu coração. 

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