Vivemos numa época de muita comparação. Ninguém vale pelo que é, mas pelo fato de ser melhor ou pior do que alguém. Valemos se vencemos este ou aquele padrão de comportamento, seja no trabalho, seja mesmo na vida em casa. Sempre há uma referência de comparação: um(a) colega de trabalho, um(a) vizinho(a), um(a) amigo(a). E há círculos de comparação dos mais diversos, entre workaholics, entre hippies... e, infelizmente, dentro das Igrejas. E o pior de tudo é que quem nos atribui este valor em termos de comparação é na maioria das vezes a gente mesmo.
Irmão Roger, fundador da Comunidade de Taizé (www.taize.fr), uma vez escreveu uma oração muito simples no final da Newsletter dos Irmãos de Taizé que me marcou profundamente: “Não nos comparemos com ninguém, porque nisso não há bem algum”. Podemos nos comparar para mais, nos achando melhores que os outros e caindo no pecado do orgulho, ou ainda para menos, caindo em diversos problemas decorrentes da baixa autoestima, ou pior ainda, na inveja.
A comparação rompe com uma verdade fundamental em cada um de nós, a de que somos todos profundamente diferentes e que, no final das contas, cada vida é uma jornada única. Podemos encontrar similaridades com outras vidas, mas nunca igualdades. Quando aceitamos essa verdade fundamental, encontramos paz. Cada jornada dessas é desejada por Deus, amada de modo especial e só pode ser feita pelo peregrino a quem Ele confiou.
Poucos se atentam para o mau que a inveja causa na alma. Por inveja, as autoridades judaicas mataram Jesus. Por inveja, muitos santos foram maltratados dentro de suas próprias comunidades, quando o que levavam era a salvação e a alegria para seus irmãos para que chegassem todos juntos à mesma santidade. Nos perguntamos muito se somos invejados, mas será que nos perguntamos o suficiente se somos nós os invejosos?
A tradição católica nos ensina que o melhor remédio para a inveja, e o melhor escudo para não cairmos nela, é a admiração. Diferente da comparação, a admiração nos leva a imitar aquilo que admiramos naqueles que consideramos melhores do que nós. Diferentemente da comparação, o admirador deseja de certa maneira ser parte do mundo da pessoa admirada. Podemos pensar como cristãos que podemos aprender com o outro e chegar com ele(a), como quem escuta a um irmão(ã) mais velho(a), à mesma alegria em Deus.
Por isso, espero, com a Graça de Deus, ensinar minha filha a admirar algumas das grandes mulheres que conheci em minha vida. Àquelas que pacientemente souberam suportar familiares difíceis, tantas vezes o próprio marido, e, com paciência e oração, lhes dobraram aos poucos o coração, para que ambos encontrassem a salvação. Àquelas outras que com suor e lágrimas, submetidas a muitas dores e sofrimentos sustentaram suas famílias, muitas vezes sozinhas. Que ela saiba admirar as mulheres silenciosas que fazem o trabalho necessário e útil, sem se preocupar com as aparências, principalmente na Igreja. As que estão prontas para acorrer às famílias pobres, a assumir as pastorais que foram abandonadas pelos outros pela falta de status ou pelo excesso de trabalho e escolheram sempre estarem ocultas e disponíveis. A todas as mulheres fortes, destemidas e corajosas.
E todas as mulheres de sua idade e do seu meio que forem admiráveis.
E que ela saiba ainda conservar a pureza e a inocência, colunas da verdadeira sabedoria. Que ela saiba, quando for mais velha, a ensinar com seu exemplo a grandeza e o valor da devoção à Maria, a Grande Mãe de Deus, a Imaculada. Algo que então para mim era secundário e até supérfluo, mas que se tornou central quando pude ver na vida de uma mulher. Que, com a Graça de Deus, minha filha tenha a alegria de ser sinal da dignidade com a qual Deus ornou todas as mulheres em Maria, a nova Eva.