ABORTO E A CRISE GERADA PELO ZIKA VÍRUS

E por que as mulheres não devem abortar



É importante notar o espaço desproporcional que a mídia oferece para as campanhas pró-aborto. 

O site da BBC Brasil apresentou a notícia a respeito da campanha da ONU para descriminalizar o aborto nos países vítimas do Zika Vírus como se a voz das mulheres brasileiras estivesse sendo finalmente ouvida. E até mesmo a Super Interessante há algum tempo lamentou que as regras para o aborto legal foram tornadas mais rígidas no Brasil. 

Parece não interessar que, no nosso país “democrático”, a maioria absoluta das pessoas seja contra o aborto. Ou que na última enquete da Revista época, 86,6% dos participantes tenham se manifestado contra o aborto em caso de Zika Viírus (1). 

As evidências contra o aborto são gritantes e a primeira delas é a inevitabilidade da morte de um bebê, o que o movimento pró-vida não tem deixado de apontar e denunciar sempre que tem a oportunidade.

Entretanto, as pessoas envolvidas em situação de aborto não raro se encontram vulneráveis e é disso que o movimento pró-aborto quer se aproveitar nessa crise gerada pelo Zika Vírus. 

Por que as mulheres abortam? E por que em um país de maioria absolutamente cristã o discurso pró-aborto ou ao menos uma grande tolerância ao tema, encontra ainda tanto espaço na mídia? 





Bem, sem entrar na discussão evidente sobre a inevitabilidade da morte de uma pessoa durante o aborto e sem recorrer demoradamente à trágica ironia que é resolver os problemas causados pelo Zika Vírus matando as suas vítimas, gostaria de explorar o assunto por ainda outro ângulo:

Entre os vários erros em que a defesa do aborto incorre, há dois pressupostos equivocados que eu gostaria de apontar:

O primeiro é que a nossa felicidade consiste na ausência de sofrimento e dor.

Assim, qualquer sofrimento, como criar um filho com graves problemas de saúde, ou a falta de condições financeiras, deve ser evitado, sempre que possível. Ou ainda que devemos evitar que crianças pobres se tornem criminosos e venham colocar a nossa vida em risco. E ainda o sofrimento que é poder vir a ser expulso, por incompreensão ou pelas novas necessidades da vida, do círculo dos amigos ou da família.

Estudar, ter uma carreira, amigos, casar se quiser e talvez ter filhos é assim o caminho natural da vida e da felicidade a que todos têm direito.

Mas há aí dois erros. O primeiro é acreditar que o último parágrafo é a felicidade. Há milhares, milhões de pessoas insatisfeitas, ou ao menos irrequietas, com essas coisas.

O segundo erro, implícito, é que é possível planejar assim nossa vida. Mas quem pode prever onde irá trabalhar, com quem irá se casar, os filhos que vai ter, a doença de que vai morrer e as diversas desilusões e mentiras que encontramos pelo caminho?

Conseguimos, quando muito, traçar grandes linhas. E tomar decisões no presente baseados na dor que sentiremos no futuro, é, no mínimo, impreciso. Pois o futuro é sempre incerto.

E a melhor maneira de nos prepararmos para a vida é saber que ela é assim, incerta. Como não sabemos o caminho que iremos trilhar, o mais sábio é nos armarmos por dentro para trilhar qualquer caminho. A felicidade é em grande medida uma batalha que travamos dentro de nós. E não com o que acontece ao longo do caminho.

Não quero diminuir ou desprezar a dor das mulheres nessa condição. E nem das que abortaram. Quero menos ainda condená-las. Só Deus sabe a dor que carregam por dentro. E tão pouco quero dizer que a solução reside em alguma forma de intimismo religioso ou algo do gênero, que basta um pensamento positivo.  

Mas que, e eis aqui uma das infinitas joias do Cristianismo, que o presente pode ser redimido, e que a dor e o sofrimento não têm a última palavra. É consolador saber que entre os ancestrais de Cristo havia adúlteros, um caso de incesto e pessoas desprezadas pela sua sociedade, às vezes injustamente (2). E que grandes homens da história nasceram nas situações mais adversas, soube recentemente da história do padroeiro de Glasgow na Escócia, que foi concebido em um estupro de guerra (3).

Não se trata de dizer que a dor e o sofrimento são irreais, mas que o bem que pode brotar deles é ainda mais forte.

Com relação às necessidades concretas das vítimas de microcefalia, acredito que o SUS pode perfeitamente, em parceria com organizações da sociedade civil, Igrejas e empresas, prover um sistema de acompanhamento especial para essas famílias.

E que a sociedade como um todo pode acolher essas famílias, livrá-las da dor e da vergonha que sentem por não corresponderem a fúteis padrões sociais e que podemos dizer para elas que o sofrimento delas é nosso também, que iremos atravessas juntos tudo isso, que vamos vencer e que seus filhos são nossos também, pois somos um só povo.

Alguém poderia dizer que as linhas acima são bem irreais, porque ninguém pensa assim. Bem, embora eu e algumas pessoas também pensemos assim, é verdade.  Mas este ideal é uma sociedade pela qual vale a pena lutar. Já uma sociedade cuja primeira opção é a morte das vítimas, não.




    (1) Embora seja discutível se a amostra é representativa, apesar dos 6.290 votantes (acesso em 08/02/2016) interessante notar que há, ao menos, uma grande parcela da população brasileira que é sistematicamente contra o aborto, há quem é dado pouco espaço nos grandes meios de comunicação. Link:http://epoca.globo.com/vida/noticia/2016/02/gravida-vitima-de-zika-deve-ter-direito-ao-aborto.html (2) Há uma série de controversas acerca da genealogia de Jesus, a respeito delas este link é interessante, embora eu faria algumas ressalvas ao texto: http://www.bibliaafundo.net/2013/08/o-incesto-nas-escrituras.html (3) São Mungo, para uma leitura rápida: https://en.wikipedia.org/wiki/Saint_Mungo







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