Ou sobre a grande, imensa, alegria do casamento
Bem, eu ainda não li o texto completo da Amoris Laetitia. Mas os trechos que li, a postura do Papa Francisco de maneira geral nos últimos anos e os comentários de alguns amigos me levaram a refletir sobre as razões que me levaram a me casar, lembrar as razões que me fizeram escolher esse caminho.
Caminho que há alguns anos atrás era tão estranho quanto é hoje para a maioria das pessoas (e não me refiro só a jovens e adolescentes). Afinal, o que faria dois jovens em pleno juízo, pelo menos assim achávamos, rs, escolher aguardar o casamento para viverem mais intimamente juntos e depois, sem muito dinheiro, escolher logo ter filhos. E agora, quase 7 anos depois, já são 3! Uma bela escadinha, rs.
É claro que nem tudo saiu como o planejado, mas, em linhas gerais, fomos mais do que atendidos até aqui nos objetivos que traçamos. Estamos mais felizes do que queríamos, ou achávamos possível alguns anos atrás. Não por que não tivemos dificuldades. Tivemos e temos muitas, mas as temos vencido todas juntos.
Não havia nenhuma pressão social para que agíssemos assim, pelo contrário, mesmo nos ambientes religiosos, não era incomum nos encontrarmos contra a corrente. Mas de maneira geral, as pessoas mais admiravam do que criticavam.
E essa discussão é particularmente importante no contexto atual, nas chamadas "cultural wars" pela mídia católica americana, em que se travam batalhas acerca da redefinição dos conceitos ligado ao casamento e à sexualidade humana.
Pensando sobre o assunto percebi que nenhuma regra me motivou a agir assim. O que me motivava era o amor que eu havia experimentado e o Cristo que havia encontrado. Diante de tanto amor, de tanta beleza, eu não conseguia conceber outra forma de me envolver com alguém, se não por uma entrega completa, radical, inteira.
Se não fosse assim, eu me sentiria covarde, traindo o amor que tinha visto e experimentado. E simplesmente não queria. Por que buscar o segundo melhor, quando o primeiro é tão superior e as outras opções nem lhe chegam aos pés em termos de felicidade e satisfação?
Acho que é comum as pessoas caírem em dois erros: o primeiro é imaginar que a felicidade consiste em não ter dificuldades. Pelo contrario, a felicidade consiste em vence-las com gosto, com alegria e com vigor!
O outro é não acreditar que seja possível. E acho que este seja o erro mais comum. As pessoas simplesmente não acreditam que seja possível que duas pessoas possam realmente se amar inteiramente, serem fiéis uma à outra e serem felizes. Mas podemos. Da maneira certa, podemos. E se não acreditarmos nisso, como poderíamos suportar as batalhas de cada dia, quem é que consegue sustentar uma guerra diária para no final das contas ter apenas uma felicidade possível, ou uma alegriazinha? Quem consegue se motivar dessa maneira?
Não é de estranhar que, entre os que pensam assim muitos tombem pelo caminho.
Acredito ainda que há muito a ser dito ainda sobre o casamento. Há mistérios na Igreja que vão se revelando aos poucos, vejamos o dogma da Imaculada Conceição, por exemplo. A Igreja o intuía muitos séculos antes, os franciscanos já falavam abertamente dele pelos anos 1200, mas a Igreja só o proclamou no começo século XIX, e pouco depois a própria Virgem Santíssima o confirmou. Não seria assim com o casameto? Um mistério a ser revelado, e até purificado, pela crise que vivemos?
O casamento talvez seja o menos estudado dos 7 sacramentos. São Paulo diz que o casamento é imagem, sinal do amor entre Cristo e a Igreja, Cristo esposo da Igreja e esposo de cada alma como se fosse a única criatura do universo. Esposo da minha alma e de todos os que foram remidos pelas águas do batismo.
Para além da geração de filhos e da segurança dos membros, a família é o sinal no tempo de um amor eterno e infinito, os esposos espelham a grandeza e a solicitude do amor Divino.
O casamento é ainda uma via de purificação e de expiação. Os esposos se purificam mutuamente de seus defeitos e suas fraquezas para assumirem a imagem de Cristo, até que já não sejamos nós que vivamos, mas Cristo que viva em nós.
Eu me pergunto: se não fosse a minha esposa, eu não estaria atolado em um lamaçal de egoismozinhos e fraquezas? Com os filhos, quanta força encontrei em mim! Quanta coragem! São eles a minha força e a minha coragem. Sim, é claro que tenho meus defeitos, mas como sou melhor por causa deles!
Talvez algumas pessoas lendo este post achem que sou ingênuo. Ou que esteja mentindo. Obviamente não estou mentindo e à acusação de ingênuo, diria que não, mas que gostaria muito que eu fosse, na verdade, completamente inocente. Como alguém que deseja as coisas sem mancha e que não aceita comer um banquete misturado com lama, que penso que é como devemos desejar todas as coisas, inteiras.
É verdade que nem sempre nossa vida segue assim um caminho reto, claro, na maioria dos casos é cheia de idas e vindas, com curvas, obstáculos, avanços e retrocessos, como os rios chineses, tortuosos antes de chegarem ao mar, como ouvi esses dias. Eu tenho muitas coisas de que já me arrependi amargamente. Mas o que seria do rio se desistisse de chegar ao mar? Ou deságua em um rio maior ou vai ao mar, mas é preciso ir em direção ao maior, ao mais perfeito. Não sejamos nós como o único rio do mundo que termina em um deserto.
O casamento bem vivido é caminho firme, é chão sólido, não é um equilíbrio numa corda bamba, se acreditarmos e nos confiarmos àquele que tem sabedoria para governar bem os corações.
Eu poderia escrever sobre técnicas de gerenciar conflitos, tolerar uma vida medíocre ou aceitar eternas fraquezas. E isso não quer dizer que não as tenhamos. Ou poderia escrever sobre regras morais. Mas seria mentira. O que me faz feliz não é nenhuma dessas coisas, apesar da importância que também têm.
É um levantar sempre na direção dAquele que me ama, e pode governar meu coração.