Archive for 2019

Carta Capital e Arautos

Mais uma calúnia deles, mais uma espadada nossa





Sempre achei muito interessantes os textos da Carta Capital. Não se pode dizer que sejam mal escritos (ou não eram pelo menos, mas do jeito como anda o mundo, já não se fazem militantes de esquerda como antigamente...). Li a revista muitas vezes, como uma especialista em meia-verdade, mas a parte da meia-verdade deles (que é mentira) não deixava de ser interessante. 

Essa última reportagem não deixa de ser curiosa. Acusam os Arautos de finalmente assumirem seu apoio ao Bolsonaro como uma estratégia de se defender dos grandes grupos de mídia que se alinham à esquerda, tentando um futuro governo como estratégia desesperada de obter recursos por meio de propaganda de estatais e que por isso atacam os grupos conservadores, seus potenciais rivais...A revista dá a entender que esta é uma narrativa criada pelos Arautos. 

Bem, mas quando a Carta Capital afirma que os Arautos é aliada do Bolsonaro e é um grupo conservador que deve ser atacado...ela não faz exatamente isso? 

E...Carta Capital fazendo eco à reportagem da Globo? A TV da ditadura e etc...já não se fazem militantes de esquerda como antigamente...

Parece que a equipe de reportagem da TV Arautos é melhor que a da Carta Capital.

Entretanto, o ataque não é aí. O ataque está na foto das "relíquias" de Mons. João, deixada despreocupadamente no começo da reportagem (e aliás não tem nada a ver com a reportagem, o que deixa claro ter sido colocada de forma ofensiva) como tentativa de reforçar a narrativa difamatória, caluniosa e de baixa qualidade intelectual de que somos um grupo fanático, radical, inimigo do bom senso e etc...

Pois então, mostremos o bom senso da prática. São Bernardo de Claraval deixava que sua túnica fosse cortada, em vida, e levada pelos fieis. Uma certa santa bebia a água em que as freiras do convento lavavam seus pés em sinal de veneração às religiosas e Santa Teresinha sugeria que guardassem as unhas que cortava, porque um dia as pessoas as considerariam importantes. 

E o São Pe Pio, sempre bem humorado, dizia que se sentia muito protegido, porque tinha uma foto do Padre Pio sempre com ele. rs.

São João Bosco, os doentes deixados para que a sombra de São Pedro os tocasse como narra os Atos dos Apóstolos...e poderíamos buscar ainda muitos outros exemplos. 

Mas um ateu poderia argumentar que ao invés de ajudar os Arautos, esses argumentos apenas demonstrariam a irrazoabilidade de toda a Igreja Católica. A isso poderíamos responder que ele (ou ela, para não deixarmos de ser inclusivos) não entendeu duas ideias centrais para a fé cristã: a humildade e a dignidade do corpo humano. 

A humildade é a verdade, diz Santa Teresa. O humilde não se faz inferior ao que realmente é, mas apenas reconhece o que lhe é superior. Ele não se faz menor, ele admira o que é maior. E se alguém nos ensinou algo fundamental para nossa vida, se recebemos por meio de alguém tantas coisas que jamais receberíamos de outro modo, este alguém é digno de honra e homenagem. 

Já o orgulhoso não reconhece o fato mais essencial de que não consegue fazer nada sozinho, fica a vida inteira imaginando pontos em que supostamente é melhor que os demais, provas da sua autossuficiência e histórias alternativas (narrativas criadas para si mesmo) que mostram como poderia ter feito tudo sozinho. E não sabe sequer plantar um pé de alface.

Somos templos do Espírito Santo, diz  São Paulo. E se pelo nosso corpo exercemos o bem, se por ele passou a ação de Deus, se torna além de templo, um templo purificado. E digno de honra e homenagem. E se tocou, por assim dizer, o Divino, se torna divinizado, como um tecido em que caíram algumas gotas de ouro, que não vale por si, mas pelas gotas que o tocaram. 

Diz o Evangelho que até os cabelos de nossa cabeça estão contados, isto não é apenas uma força de expressão. Se vivermos como devemos viver, não serão apenas as relíquias de alguns homens e mulheres santos que teremos, mas de uma multidão de cristãos. 

Cada um na sua ordem. E com a sua devida homenagem. 






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ARAUTOS, FANTÁSTICO, ABUSO E HUMILHAÇÕES

Mais do mesmo na Igreja? Mas qual dos mesmos? 




A reportagem do Fantástico sobre os Arautos me fez lembrar uma notícia que li há algum tempo sobre um grupo fundamentalista hindu que tinha atacado um mosteiro feminino porque eles foram ensinados que as religiosas eram escravas dos padres (1). Bem, mas isso, de acreditar nessas coisas, só acontece em países pobres (como se o Brasil fosse muito rico) e muito atrasados, certo? Bem, não é bem assim...

Na verdade, a Igreja Católica hoje é uma grande desconhecida no país em que o primeiro ato público da sua história foi uma Missa, desconhecida até mesmo para os próprios católicos. Tanto é verdade que o fato do superior geral da maior ordem religiosa masculina do mundo dizer que o demônio não existe ou que muito provavelmente foi feita uma cerimônia com um ídolo pagão nos jardins do Vaticano não assusta ninguém...mas um exorcismo... 

Mas alguém poderia perguntar: já não vimos esse filme antes? Um grupo conservador, com aspectos militares e que depois...revela uma série de problemas morais. E muitas pessoas, muito boas, sofrem até hoje as consequências dessas tragédias. Infelizmente a quantidade de escândalos que temos na Igreja nos permite fazer essa pergunta.

Mas o demônio está nos detalhes.... 

Além do caso dos Arautos, e dos casos acima, já vimos também "outros casos antes". Chamaram a atenção no mundo católico recentemente o caso do fundador dos Franciscanos da Imaculada, Pe Stefano Maria Manelli e do Cardeal Pell. No primeiro caso o padre foi acusado de abuso por uma ex-religiosa do instituto, foi julgado e depois inocentado, mas sua ordem sofre ainda uma forte intervenção. Já no caso do Cardeal Pell, ele foi acusado por dois ex-coroinhas de abuso. No caso do Cardeal, que agora está preso, para que o crime pudesse acontecer, ele teria que deixar a procissão final, como bispo, ir à sacristia, encontrar dois coroinhas tomando vinho canônico e atacá-los ainda paramentado. Qualquer católico sabe que isso é simplesmente impossível. Mas o Cardeal foi levado a júri popular e condenado. 

O que esses casos tem em comum? O fato de não terem testemunhas além das acusadoras que, no caso dos Arautos e dos Franciscanos afirmam que o superior agiu em acordo com a sua superiora imediata. E no caso dos Arautos, são estrangeiras, o que torna mais difícil serem punidas pela justiça brasileira...além de que os supostos crimes praticados são, no mínimo, improváveis... 

Os Franciscanos também eram conservadores e estavam em franca expansão. Cardeal Pell fez uma forte campanha contra o lobby gay na Austrália na votação que o país teve sobre as uniões civis e era o responsável pela reforma financeira do Vaticano...no caso dele, um dos acusadores disse à mãe no leito de morte que era mentira e ainda assim, levado a júri popular, o cardeal foi condenado. Bem, eu o considero inocente. 

Voltando ao caso dos Arautos, o timing, das ações também é bastante interessante. Segundo a Veja, ela possui o depoimento de um ex-Arauto que teria dado origem à visita canônica de 2017. Quando os Arautos perguntaram a que se devia a visita, não foram informados que havia uma denúncia. E nem souberam depois. Terminada a visita, com milhares de Arautos entrevistados, eu inclusive, não se encontrou nada. 

Mas um pouco depois dos incêndios na Amazônia e um pouco antes do Sínodo, um grupo de acusadores reabre um processo fechado contra um dos colégios dos Arautos e faz boletins de ocorrência (não há processo ainda) quase ao mesmo tempo em que vão à imprensa...começando por um site de propriedade de Luiz Estevão, ex-político e atual presidiário. 

Uma pergunta interessante a se fazer é, se há um suposto crime (que é calúnia, mas isso é outra história), o colégio não deveria ser protegido? Por que fechar o colégio? O que isso tem a ver com as acusações? 

Ocorre que o colégio encaixa em uma narrativa... 

Chesterton, católico inglês, do final do século XIX e começo do XX, comenta em "Ortodoxia" que um dos mitos do pensamento contemporâneo é que os homens viviam em um passado pré-histórico de forma mais ou menos livre, satisfazendo seus instintos e que, em algum momento, um grupo passou a dominar os demais impondo o terror e o medo, utilizando a ideia de uma vida e castigos pós-morte. E que assim teriam surgido os primeiros sacerdotes. 

A este mito hoje se soma outro, a ideia de que a relação entre sacerdotes e leigos seria uma relação de poder (clericalismo) e que abusos aconteceriam não por falta de virtude, mas por uma relação de dominação. Uma vez que todos carregaríamos os mesmos incontroláveis instintos primitivos, a forma de tornar a vida mais civilizada e evitar situações como essas não seria ensinar a virtude (e a rezar), mas dividir o poder. 

E jovens castos, puros e alegres não existem. Só podem ser assim robotizados, controlados e dominados, porque afinal de contas, ainda mais os jovens, tem instintos incontroláveis. 

Certo? 

Errado. 

Basta visitar um colégio dos Arautos. O choque com essa narrativa que nós de uma maneira ou outra compartilhamos, porque fomos criados nela, é tão grande que eu mesmo conheço não poucos casos de pessoas que quando descobriram que se pode viver uma vida pura, ficaram maravilhadas (1). 

E a quem interessa atacar os Arautos...? 

Aqueles que atacam os Arautos, não me refiro às acusadoras, mas aqueles que estão por trás disso tudo se beneficiando de um grupo pequeno de desafetos, não se importam com religião. Esses só se importam com dinheiro e poder. E por alguma razão eles acreditam que os Arautos podem atrapalhar isso. 

Se eles pensam isso dos Arautos, os religiosos, estão enganados. Sua missão é totalmente religiosa. 

Agora, se eles pensam que os leigos que participam do movimento e os amigos dos Arautos, que são algumas milhares de pessoas somente no Brasil, vão querer se tornar uma força político-social para não deixar que o país caia nas mãos dessa quadrilha imunda, pensaram bem. 

Pois é exatamente isso que vamos fazer.




(1) Link a publicar 
(2) Além de que para mostrar que essa narrativa apresentada por Chesterton é absurda, basta verificar que se na história cristã houve sangue, antes dela, era só sangue. E que quanto mais os arqueólogos cavam, mais cemitérios e rituais encontram. No final das contas parece que o homem sempre foi religioso. 

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