Jesus ressuscitou mesmo?

É possível acreditar ainda numa coisa dessas em pleno século XXI?

No Domingo de Páscoa, a Folha de São Paulo e o Estadão nas suas versões online colocaram apenas fotos de confrarias de encapuzados e algumas fotos internacionais retiradas de agências de notícias sobre a Páscoa. Nenhuma imagem da Páscoa em São Paulo. Celebrar a Páscoa ficou parecendo algo exótico, algo que as pessoas comuns não fazem.

Para piorar a situação, um desses jornais, não me lembro qual, ainda deixou um link para um “especial de Páscoa com as coelhinhas da playboy”. E claro, notícias e notícias sobre o trânsito no feriadão. Pois é, o dia mais solene dos cristãos na maior cidade do maior país católico do mundo virou “feriadão”.

Justiça seja feita, o History Channel fez especiais sobre as aparições de Fátima e Guadalupe, de uma qualidade impressionantemente boa. E mais surpreendente ainda, com a fala de teólogos e padres católicos devotos. O especial termina dizendo que Maria uniu em si dois povos irremediavelmente separados pela violência e por visões de mundo totalmente distintas, fazendo nascer em si mesma, já que ela aparece mestiça antes de existirem mestiços, um novo povo, o México. Acho que em boa parte das Paróquias não se ouviu algo tão profundo assim.

A Ressurreição do Senhor foi marcada pela indiferença na maior parte do mundo católico.

Além disso, e mais grave do que isso, a crise de fé que a Igreja atravessou no século XX deixou uma profunda marca nos católicos. Afinal de contas, Jesus ressuscitou mesmo?

Se olharmos os Evangelhos veremos que eles discordam entre si sobre os detalhes da Ressurreição do Senhor. Simplesmente discordam daquilo que é o centro da fé cristã! Além disso, como não pensar que o que ocorreu foram alucinações, fenômenos psicológicos, catarse ou outros que depois foram ganhando contornos mais sofisticados nas comunidades que escreveram os Evangelhos?

Não seria mais razoável pensar que há um princípio absoluto no universo, mas indecifrável, como pensam os agnósticos, do que dizer que Deus se fez homem, nasceu de uma virgem e depois ressuscitou dos mortos? Ou não seria mais fácil parar de pensar nessas coisas e dizer que fé é fé e ponto e, portanto, não precisa de nenhum compromisso com a ciência ou com a história?

Afinal, por que eu acredito na Ressurreição de Jesus?

Quando tinha 13 anos, participei de um encontro para adolescentes. Fui participar desse encontro porque lá havia uma menina em que eu estava interessado, porque o lugar tinha um bom campo de futebol e muitos amigos meus estariam lá. Achei que seria ótimo.

No começo do encontro, antes da primeira palestra, foi entronizada uma imagem de Nossa Senhora. Eu me lembro de sentir um estremecimento interior, de ficar emocionado com a entrada da imagem. Idolatria, pensei. Quando todos batiam palmas, eu cruzei os braços. Não vou pactuar com essa idolatria, são emoções vazias, sentimentalismo. Não bati palmas.

Mas em uma das noites do encontro foi feito um momento de adoração, com a exposição do Santíssimo Sacramento. Durante a oração, os adolescentes cantavam, recitavam salmos e um diácono coordenava, passando a palavra a uns e outros e fazendo comentários.

Em um dos seus comentários, o diácono encontrou no chão um crucifixo de terço sem os braços e sem as pernas. Perguntou se era de alguém, não era de ninguém, e começou a fazer uma pregação a partir deste crucifixo. E ele dizia “estamos mutilando o Corpo de Cristo...”

Nesse momento me irritei. Tolerar as orações e o sentimentalismo de alguns era algo que eu podia fazer, agora escutar que eu, que não fiz nada, que levava minha vidinha de bom menino, que eu era culpado de mutilar o Corpo de Cristo, ah, isso eu não aceitei! Mas de alguma maneira fiquei intrigado e quis saber se aquilo tudo podia ser verdade. Olhei para o Ostensório no centro do salão e disse:
Se o Senhor é verdade, eu quero te conhecer.

Não consigo descrever exatamente o que aconteceu. Sei que eu imediatamente me senti pequeno, infinitamente pequeno, como se algo muito maior do que eu estivesse à minha frente. Uma Força diante da qual eu fiquei paralisado. De joelhos e de olhos fechados, me vinha ao pensamento um profundo sentimento de mediocridade. Medíocre, era essa a palavra que me vinha à mente. Me senti de mãos vazias, pequeno, culpado, minha vida até ali não valia nada, jamais tinha feito algo de bom para alguém, eu era apenas medíocre. Isso me causou uma dor profunda e enorme e eu sentia nojo e vergonha de mim.

Tomado por essa Força e com uma profunda dor interior, dor que jamais tinha sentido e depois nunca mais voltei a sentir, dor que eu acho que não suportaria por muito tempo, me arrependi. Não conseguia formular um pensamento sobre isso, mas me arrependi interiormente.

Imediatamente me senti profundamente amado.

Mas não era um amor como os amores que conhecia até ali. Era algo infinitamente superior, pleno, sentia um torpor e ao mesmo tempo um aquecimento interior, uma espécie de êxtase e sentia meu coração cheio, quente, pleno. E de olhos fechados eu tinha a sensação de que um homem estava à minha frente. E eu sabia que era o Senhor.

Este homem falava comigo interiormente, sem palavras. E sem formular um pensamento, eu tomei consciência que Deus é trino, que há três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo e um só Deus. Sabia que o Filho tinha morrido por mim por amor, para que eu tivesse vida plena e abundante, para me salvar pela vontade do Pai e o que o que se processava em mim naquele momento era obra do Espírito Santo. Não sei como explicar, só posso dizer que naquele momento tomei uma consciência instantânea dessas realidades.

Quando encerraram o momento de oração, esse ardor, esse calor interior, esse diálogo sem palavras que ocorria em meu interior não cessou. E eu olhava as pessoas ao meu redor e elas haviam se tornado irmãs para mim. Eu as amava com mais força do que tinha amado qualquer um até ali. E esse amor não era meu, era um amor que me foi dado. Percebi que “de repente” eu amava aquelas pessoas mais do que minhas irmãs, mais do que meus pais, mais do que a mim mesmo. Era um amor apaixonado, inteiro, devotado. Um amor que até ali eu não conhecia e me deixava como que embriagado.

E eu ficava repetindo em diálogo interior “Então o Senhor é verdade”...enquanto olhava para o céu estrelado. Eu nunca tinha percebido como o céu é lindo! E me dei conta que havia encontrado a chave que dá sentido à vida, à história, a tudo. De repente, era como se não houvessem mais espaços vazios, era como se o ar estivesse cheio de Deus. Eu estava diante do próprio Deus! E dizia também interiormente, “Senhor, como posso agora querer outra coisa. Eu quero o Senhor”!

Na minha cabeça, esse momento de oração havia durado cerca de 15 min. Mas depois que terminou, me dei conta que se passaram cerca de duas horas. Eu, um ateu prático, um dos milhões de católicos que não creem, havia passado duas horas de joelho e sentia o corpo leve, renovado, flexível, como se tivesse acabado de nascer, sem a menor dor ou desconforto.

Esse momento foi como um dia que não teve ocaso para mim. Esse diálogo interior com o Senhor nunca cessou. Esse fogo interior nunca mais me deixou. E os dias nunca mais foram os mesmos. Agora que lá se vão 15 anos desses fatos, me parece que todos os dias são um prolongamento daquele dia. É sempre como se tudo isso tivesse acontecido ontem. É uma memória que não envelhece. Depois conheci também o silêncio de Deus, muitas vezes me afastei dele pelos meus inúmeros pecados e às vezes me perguntei onde Ele estava, e se eu o havia abandonado...mas Ele nunca me deixou. Eu me apaixonei por Ele. 

Eu O vi.

Felizes aqueles que acreditaram sem terem visto. Eu não consigo me contar entre esses bem aventurados, como muitos que conheci também não. Embora sem imagens, eu vi o Senhor. E testemunho que Ele ressuscitou dos mortos.



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