Nossa Senhora de Kibeho


A aparição que profetizou um genocídio

Em 2007, quando estava nos EUA, eu assisti a um programa da rede PBS (mais ou menos uma TV Cultura pelo estilo dos programas) que me causou uma impressão muito profunda. O programa tratava da vida de Imaculée Llibagiza*, uma jovem que sobreviveu ao genocídio de Ruanda em 1994. Uma história tão importante quanto desconhecida. Em 1994, as duas principais etnias do país, tutsis e hutus, entraram em guerra civil, resultado de séculos de hostilidades de ambas as partes, o que deixou quase 1 milhão de mortos, o equivalente a 10% da população na época.

A história dela é impressionante. Sendo da etnia tutsi, teve quase toda sua família exterminada. Depois foi literalmente caçada pelos soldados hutus, sobrevivendo por um milagre. Imaculée passou 3 meses escondida em um banheiro secreto em uma casa paroquial junto com outras mulheres sem ser encontrada. O ápice desse drama foi quando os agressores começaram a revistar a casa em que estava escondida. Ela conta que ao perceber a presença da milícia hutu dentro da casa em que se encontrava, implorou a Deus que não morresse daquela forma.  Um soldado chegou a abaixar a maçaneta da porta, mas, sem razão aparente, foi embora.

Em seguida a milícia deixou a casa. Se fosse pega, Imaculée certamente seria estuprada e morta. Como ocorreu com centenas de milhares de mulheres.

Sobreviver a um dos maiores genocídios da história já seria algo impressionante, mas o que mais me chamou a atenção é que o programa não tratava da história de sobrevivência de Imaculée, mas sobre a possibilidade de amar em qualquer circunstância. Imaculée tinha no seu esconderijo apenas um Rosário que tinha ganhado do seu pai. Diz ela que durante esse período, rezava 27 terços e 40 terços da misericórdia por dia. Conta ainda que sentia como que se estivesse deitada no colo da Virgem enquanto rezava. E foi assim, comendo o suficiente para não morrer, que ela sobreviveu ao cativeiro.

Mais do que dar forças para sobreviver, a oração do Rosário formou aos poucos no coração daquela jovem de 22 anos o imperativo de perdoar aqueles que a perseguiam e que haviam brutalmente assassinado seus pais. E assim, ainda no cativeiro, ela aprendeu a perdoar seus inimigos e a deixar para trás qualquer sentimento de ódio e ressentimento. Depois ela teve a oportunidade de fazer um gesto concreto a este respeito, beijando um dos assassinos de seus pais.

Em uma noite, Nosso Senhor em sonho lhe disse: “Não tenha mais medo”. Hoje Imaculée vive nos EUA e desenvolve seu apostolado por meio de livros, entrevistas, retiros e palestras que tem como tema o perdão, o verdadeiro perdão cristão, e as mensagens de uma aparição mariana que ocorreu em Ruanda em 1983, Nossa Senhora de Kibeho.

Eu só tive conhecimento desta aparição neste sábado e achei que vale a pena falar um pouco a respeito. Durante quase 10 dos 15 que passaram desde minha conversão tive bastante reserva com relação à história de aparições e a devoção mariana. E espero continuar tendo uma postura crítica e racional diante dos fatos. Mas se o que realmente busco é a verdade, depois de ouvir ou ler testemunhas convincentes, examinar sua coerência com o Evangelho e as provas de conversão das pessoas envolvidas, não acreditar e não obedecer seria apenas fruto da minha indolência.

Em 1983, a Virgem Maria apareceu a três crianças de Ruanda. Uma referência segura sobre o tema também pode ser encontrado no site abaixo* e também referências neste outro site**, ambos de organizações conhecidas. Imaculée esteve em encontros com presidentes (George Bush lhe enviou uma carta e Obama já foi fotografado com o livro) e atualmente trabalha na ONU num programa de prevenção ao genocídio***. As mensagens da aparição que se tornou conhecida como Nossa Senhora de Kibeho falavam de guerras, mortes e um rio de sangue caso o povo de Ruanda não se convertesse. Exatamente o que ocorreu 10 anos depois. Assim como em Fátima, que previa uma guerra ainda pior do que a 1ª Guerra Mundial caso não houvesse conversão.

Maria não vem anunciar castigos, mas clamar por conversão para que nossos atos não nos destruam. E assim como em Fátima e em Lourdes, em Kibeho ela pede aos videntes que recitem o Rosário**** e ainda as 7 Dores de Maria, devoção que remonta à Idade Média. A recitação do Rosário, que preço tão baixo por um benefício tão grande, que seria poupar um milhão de mortes e um ódio imensurável que grassou sobre a Terra! O Rosário, que pedido simples, fardo levíssimo para converter os corações e nos ganhar a eternidade! O breve espaço de tempo entre as aparições e o genocídio chamam nossa atenção para a seriedade dos fatos.

Mas mais do que isso, ao vera história dessas aparições e tantas outras como Knock, La Vang, Siluva, que ocorreram em situações de desespero, fome, perseguição política e extermínio, penso naquela pergunta que muitos se fizeram diante de grandes catástrofes: onde está Deus? Pois a resposta que tenho com base nesses eventos é que Deus estava chorando por meio dos olhos de uma mãe aflita, clamando para que seus filhos se amassem.

A Virgem querida qual mãe zelosa não quer nos tomar nada e muito menos tomar algo de seu Filho. É por Aquele que disse “Mulher eis aí teu filho” que ela vem até nós, querendo que alcancemos a felicidade para a qual o Pai nos destinou. É por Ele que Ela vem até nós. Imersa nEle, nos sofrimentos dEle que são também os dela e devem ser os nossos. Por mais que nos esforcemos, muitas coisas (a grande maioria das coisas, na verdade) não conseguimos alcançar. Mas pela oração humilde e paciente, pela conversão do coração e pela fuga do pecado (e penso aqui em tantos pecados sexuais, corrupção e mentiras aos quais fomos aos poucos acostumando) podemos facilmente alcançar. Pela oração simples podemos alcançar a salvação do mundo e a nossa também*****!

Virgem Maria, rogai por nós que recorremos a Vós!

****Rosário aqui é utilizado como sinônimo de Terço
  • *****Oração que se sincera, obviamente implica obediência ao Evangelho e uma vida de acordo com os seus mandamentos.

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2 Responses to Nossa Senhora de Kibeho

  1. Anônimo says:

    interessante essa história Rodrigo!
    A princípio tinha logo levado o foco do texto para os "27 terços e 40 terços da misericórdia por dia", mas a consequencia foi o perdão que ela consegui construir dentro dela.
    Muito massa. Abç, Felipe

  2. Rodrigo says:

    Oi Felipe, vlw! Mas a quantidade de terços é claro que não conta muito, rs. A ideia da quantidade é mais para mostrar o estado de desespero em que ela se encontrava e como Nosso Senhor e Nossa Senhora conseguiram agir em um coração, mesmo nessas condições ; )

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