Carreira, sexo e
família
Uma vez, quando era estagiário de
uma multinacional, numa reunião dos estagiários a diretora de RH disse que o
plano da organização era que um dia nos tornássemos diretores. Eu contei
40 estagiários e vi apenas quatro diretores na empresa. E pensei comigo que
havia alguma coisa errada com esse plano.
Outro dia estava participando de
uma entrevista de emprego e a responsável do RH me disse que eu seria
entrevistado pela minha futura gerente, que fez questão de vir, mesmo tendo
sofrido um acidente há poucos dias. A moça me disse isso com um ar de veneração
pela chefe, verdadeiro exemplo de dedicação ao trabalho.
Mas quando chegou a gerente, não
conseguia entender uma palavra do que ela dizia. Ela estava com os dois braços
engessados e um aparelho na boca. Ela não se mexia direito e eu não conseguia
entender o que ela falava. Para que isso?! Esta mulher não deveria estar em
casa descansando? E também não seria mais produtiva assim? Acabei não ficando
com a vaga por uma série de razões, mas a maneira como aquelas pessoas
encaravam o trabalho me fez pensar que aquela não devia ser a maneira correta
de se viver.
Muitas pessoas da minha geração
compraram a ideia de que o trabalho é o lugar por excelência de realização
pessoal. E muitos católicos vêem em assumir posições mais elevadas no trabalho
uma meta de vida. E alguns chegam até o extremo de ver no sucesso profissional
um sinal do amor de Deus e reclamam quando não são os escolhidos e quando não
estão com as melhores posições! E esquecem completamente que não é o que mais
trabalha que é o mais recompensado e nem o mais honesto o mais privilegiado e isso
se apreende dos livros de sabedoria da Bíblia.
O mundo é bom e devemos procurar
a felicidade. Mas sabendo que a felicidade completa existe somente em Deus, que
a felicidade aqui neste mundo estará sempre sujeita à imperfeição e será, quando
bem vivida, apenas semente de uma árvore que brotará para a eternidade.
É triste notar quantos católicos
se fazem de cegos diante das trapaças, mesquinharias e mentiras que se tornou o
ambiente de trabalho no mundo contemporâneo. E mais ainda quando não chamam
essas coisas pelo nome e dizem fazer parte do trabalho, parte do relacionamento
do dia-a-dia! Na verdade, deveria nos surpreender alguém que diz ter aderido à
fé imaginar que pode encontrar uma realização completa neste mundo, afinal, se
aderiu de verdade, por mais que se esforce, será sinal de contradição e irá
gerar resistência e não aplauso da grande maioria das pessoas.
Não quero dizer que os cristãos
devam viver emburrados no seu trabalho sem acreditar que algo de bom pode ser
realmente feito. Podemos ser felizes. Mas não deste jeito, não nos rendendo a
esta mentalidade.
Somos felizes quando vencemos o
mundo. A vitória do Senhor foi a morte inglória seguida da Ressurreição para a
vida nova. Assim, se nEle queremos encontrar a felicidade, devemos enfrentar
nossas pequenas cruzes, buscar a verdade em todos os contextos, sempre mirando
mais longe, para a vida que está além desta, sabendo que ter ou não ter
reconhecimento não depende de mim. Pode ou não ser interessante nos desígnios
de Deus, o que importa é que eu trabalhe bem, fazendo a minha parte com todo
amor que eu puder, sendo este amor encarnado em gestos concretos. Querer ser o
melhor é simplesmente pecado, querer ganhar cada vez mais para si é ganância. Assim
como não defender alguém acusado ou maltratado injustamente é somente covardia.
E não há bem nenhum nessas coisas.
O outro mito da minha geração é
que a felicidade está associada diretamente ao sexo.
Mesmo bons católicos, muitas
vezes se veem tão seduzidos por essa ideia que acabam criando uma espécie de cristianismo sexy, como se fosse
possível algo desse gênero. Vão à Missa, rezam com frequência, conhecem os
documentos da Igreja, mas lançam seu charme sobre qualquer pessoa do sexo
oposto que passe e se acham românticos por fazerem isso. Pensam que ser cristão
é ser delicado com as palavras, gentil, amável e...sedutor. Mas não é nada
disso.
O cristão não é apenas um
namorado ou uma namorada mais romântico ou dedicado. É alguém disposto a amar
de corpo inteiro, de alma inteira e até à morte. Alguém que não está contente
por simplesmente não trair, mas alguém que não se permite trair em pensamento!
Alguém disposto a suportar dores e sofrimentos se for necessário, a chorar
junto, a servir e que nesse desprendimento encontra uma alegria verdadeira, que
não é deste mundo.
Muitos concordam com a ideia hoje
amplamente difundida de que a castidade, e ainda mais a virgindade, é alguma
forma de repressão sexual. E bons católicos encontram dificuldades para rebater
essa ideia, vivendo uma vida do “quase-sexo a todo instante” como uma forma de
conciliar o ideal cristão com a mentalidade contemporânea e às vezes por
viverem dessa maneira ambígua acabam ficando reprimidos de verdade,rs.
Não se dão conta que a imensa
exposição que o sexo tem hoje no fundo mascara uma profunda frustração. Hoje,
se abrirmos qualquer um dos principais jornais online do mundo teremos pelo
menos três notícias associadas a sexo. Desde propagandas de sorvete até bonecas
para crianças, tudo tem apelo sexual. Mas não nos damos conta que isto é apenas
uma grande frustração.
O bêbado sempre acredita que a realização
completa está na próxima pinguinha, por isso que continua bebendo. Se ele de
fato tivesse desfrutado da pinguinha estaria saciado e não continuaria bebendo.
Nunca houve tanto adultério, traições e sexo, mas todos imaginam que se ainda
estão insatisfeitos é porque não tiveram sexo suficiente.
A felicidade no sexo está
associada à confiança. Confiança que gera uma entrega completa e que tem por
resultado um imenso prazer. Mas como posso ter confiança plena em alguém que
não declara seu amor por mim publicamente e que não me assume até a morte? Como
posso dizer: me entrego inteiramente a você, mas se amanhã não me quiser mais
tudo bem...que tipo de lixo seria eu?
Não é o casamento este vínculo
inteiro, público, de corpo e alma que torna tudo isso possível?
Se alguém se deita com alguém que
entrega seu corpo, mas não sua alma, está apenas fazendo sexo com um cadáver.
Um pedaço de carne inerte, que hoje vive, pleno de hormônios, e amanhã
apodrecerá e não deixará nada atrás de si.
É verdade que existem nuances,
detalhes e que a vida da cada um de nós pode ser medida somente por Deus no seu último dia. Mas é preciso que as referências sejam claras para que olhando tanto os diferentes matizes, não esqueçamos que existem cores. E dizer com todas as letras que se vivemos assim somos apenas bêbados e não sabemos. Somos apenas bêbados, tomara fiquemos sóbrios
um dia.
Ai você foi forte no comentário hein Rodrigo.
"Se alguém se deita com alguém que entrega seu corpo, mas não sua alma, está apenas fazendo sexo com um cadáver". Se as pessoas não tem esse pensamento de amor um com o outro devem ter apenas outro motivo, o prazer um do outro. Seria, na visão cristã, algo mais superficial.
Acho que a vida tem mtas nuances e vejo mtos casos que ficam no ocaso, no limbo, no meio-termo. Mas gostei mto do que vc disse sobre a mentira do sexo ser fonte de realização. As pessoas falam disso o tempo todo como se a vida girasse em torno do sexo. Frequentemente, noto que qm mais fala disso (de forma agressiva) tende a ser quem é mais frustrado em sua vida pessoal. Realmente, gente sexualmente (mto) ativa que tem afetividade de menina de quinta série primária.
A parte que eu mais gostei foi essa: "Muitas pessoas da minha geração compraram a ideia de que o trabalho é o lugar por excelência de realização pessoal". É lamentável isso... diria q é uma doença na nossa sociedade.