O Papa aos Movimentos e Novas Comunidades: Frescor do Carisma e Unidade Eclesial

Por Marcos Gregório Borges*





Recentemente o Papa Francisco, acolhendo os participantes do III Congresso Mundial dos movimentos eclesiais e novas comunidades, que aconteceu em Roma, de 22 a 24 de novembro, proferiu um discurso breve, em que apontou alguns aspectos pastorais que devem permear a caminhada daqueles que estão inseridos nestas novas realidades, às quais, segundo o santo padre, caminham para uma fase de “maturidade eclesial”: Manter o frescor do carisma original, respeitar a liberdade das pessoas e buscar a comunhão eclesial.

Com este discurso, o santo padre quis apontar questões muito concretas que estão relacionadas com os desafios atuais que as novas comunidades enfrentam em sua caminhada. Francisco lembrou que a novidade trazida por elas não consiste tanto nos métodos e formas utilizados, mas antes “na disposição de responder com renovado entusiasmo ao chamado do Senhor”, entusiasmo sem o qual sequer estas novas realidades existiriam, como demonstram a história de suas fundações. Desta forma, não se pode, segundo Francisco, cair na tentação de fiar-se em “esquemas tranquilizadores, mas estéreis”.

Neste sentido de abertura ao novo, o santo padre apontou para outro grande desafio a ser enfrentado pelos movimentos e novas comunidades: A comunhão eclesial. No entanto, o papa não se ateve apenas a chamar a atenção das novas comunidades para o sempre necessário esforço de conversão pastoral em vista da unidade com a Igreja hierárquica, integrando plenamente a vida da comunidade dentro da vida da Igreja, mas abordou outro aspecto importante que decorre da unidade: A comunhão em vista de responder as questões mais sensíveis da sociedade de nosso tempo.

Segundo Francisco, “os movimentos e comunidades são chamados a trabalhar em conjunto para ajudar a curar as feridas causadas por uma mentalidade globalizada que coloca o consumo no centro, esquecendo-se de Deus e dos valores essenciais da existência”. Talvez aqui esteja um dos grandes desafios que as comunidades novas precisam enfrentar. Como um bom pastor, Francisco não apontou soluções prontas, mas apenas o caminho que considera adequado, na certeza de que os movimentos e comunidades novas, se forem capazes de manter o vigor próprio do carisma originário, possuem criatividade para responder a este desafio de forma nova.

Neste novo tempo, chamado pelo próprio Sumo Pontífice de “tempo de maturidade eclesial”, cada movimento e nova comunidade é convidado a uma experiência de abertura à diversidade de carismas, partilhando de seus dons com os demais e acolhendo a riqueza existente em cada realidade, em um caminho de autêntica e fecunda comunhão fraterna que possibilite o surgimento de novas e verdadeiras amizades.

Assim como cada carisma específico só pode desenvolver-se a partir da comunhão de um grupo mínimo de pessoas em torno de um objetivo em comum (ou seja, não basta existir o fundador se não existirem pessoas em comunhão com ele em torno daquele objetivo), não é possível a construção de iniciativas em comum, como nos aponta o papa, se não existir antes verdadeira comunhão entre os carismas, e esta não pode ser construída a partir de meras reuniões e iniciativas estratégicas, mas sim a partir de um verdadeiro caminho de amizade, do qual nasce a confiança necessária para trabalhar com o outro em torno de um objetivo em comum.


Desta forma, neste novo tempo, peçamos ao Espírito Santo que alargue os nossos corações, e nos dê a coragem para avançarmos para águas mais profundas, nas águas profundas da diversidade dos carismas existentes, sem medo de acolhermos o novo que Deus quer nos dar a partir do dom da unidade.

* Marcos Gregório Borges é filósofo, coordenador do movimento Veritatis Mater e do grupo Coração Novo para Um Mundo Novo, composto por 5 novas comunidades e movimentos presentes na cidade de São Paulo. 

Artigo publicado originalmente na edição n.º 3034 do Jornal O São Paulo, de 14 a 20 de janeiro de 2015, página 2, seção "Opinião".

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