Comentários sobre a última reportagem da revista
Época.
E voltamos a esse assunto de novo!
Novamente
essa discussão sobre ter filhos ou não ter filhos (1).
Analisando
esta tabela sobre atividades mais prazerosas que coloca “cuidar de crianças”
depois de “socializar no trabalho”, “assistir televisão” e “cochilar”, eu
poderia jurar que a pesquisa foi feita entre alunos do primeiro e do segundo
ano de alguma faculdade.
E até não
seria nada demais se a reportagem não citasse Kahneman, prêmio Nobel de
economia em 2003 entre suas fontes. Bem, sabemos que os artigos científicos
geralmente são bem menos emocionantes dos que as reportagens que se fazem
deles, mas vamos supor que a reportagem tenha feito seu trabalho direito, o que
geralmente é uma suposição bem forte.
Essa
discussão está dentro de uma área de pesquisa, que tem tido cada vez mais
atenção chamada economia da felicidade. Para quem quiser conhecer mais, recomendo
o “Handbook on the Economics of Happiness”(2), que pode ser lido no Google
Books, e a dissertação de mestrado de uma colega, no banco de teses da USP
(3).
Há
pesquisas com resultados dos mais diversos: pessoas casadas são mais felizes,
dinheiro não traz felicidade e ainda que as mulheres têm ficado mais infelizes
nos últimos anos. Além, é claro, de pesquisadores que discordam dessas mesmas
coisas.
Há
discussões técnicas bem interessantes, mas penso que o que chama a atenção
dessas pesquisas é o fato delas tocarem em coisas muito próximas, nosso desejo
de felicidade e também os preconceitos de nossa época.
Um olhar
atento sobre boa parte das reportagens sobre o tema, nos levará a perceber que
em grande medida a pergunta de fundo é verificar se comportamentos com
profundas raízes religiosas, como a felicidade com o sacrifício pessoal no
cuidado com os filhos, não são apenas auto ilusões.
Ilusões,
como aprendemos com os professores de cursinho, que nos teriam sido colocadas
em algum lugar do passado para garantir a coesão social ou servir à classe
dominante da vez.
Entretanto,
geralmente as pesquisas se baseiam em grupos muito limitados e desconsideram, em
parte por conta do método, outros momentos da história da humanidade. E
assumem que somente o modelo de sociedade secularizada europeu e norte
americano é válido do ponto de vista de análise científica, pois somente estas
seriam sociedade livres.
Bem, esse
tipo de análise é um imenso preconceito iluminista, como se somente sociedades
emancipadas da religião e dos valores tradicionais pudessem ser livres. E como
se a Europa Ocidental e os EUA fossem verdadeiramente livres.
Esses estudos
concluem apenas que esta limitada sociedade que analisam está mais infeliz do
que parece. Mas isto diz muito pouco sobre o que o homem é. E menos ainda sobre
o que pode vir a ser.
E esta
forma de pensar ainda nos leva a incorrer em um erro de método. Ao buscar
entender o mundo somente por médias, tomando como realidade objetiva somente o
que ocorre com um número significativo de pessoas, erramos. Além de ser
desumano pensar que se uma forma de viver é compartilhada por apenas poucas
pessoas, logo ela é insignificante para explicar o comportamento humano.
Ainda
mais quando a média é profundamente infeliz.
Entendo que cada pessoa, por ser única e irrepetível, possui um
caminho particular para a felicidade. É uma descoberta, e ao mesmo tempo uma
decisão, totalmente pessoal, que embora auxiliados por outras pessoas, é algo
que se passa entre cada um e o próprio Deus.
Não se trata somente de ter ou não ter filhos, fazer ou não fazer aquilo, mas de encontrar o seu caminho e o seu lugar.
Embora uma
sociedade materialista e consumista talvez ache que os últimos parágrafos se
pareçam com um dos castelos nas nuvens do Dawkins ou com um conto de fadas com
enredo mais elaborado, entendo que o caminho para felicidade se encontra não em ter ou não ter filhos, consumir ou não consumir, fazer ou não fazer. Mas em encontrar esse caminho, inscrito em nossos corações, que nos leva à felicidade.
Talvez
devêssemos pensar assim. E abrir com uma foice o caminho fechado para a
felicidade.
Para ser
feliz é preciso fazer força.
(1) http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2012/10/ter-filhos-traz-mesmo-felicidade.html . A imagem é da mesma fonte.
(2)http://books.google.com.br/books?id=zCPzDfUlNpwC&printsec=frontcover&dq=luigino+bruni+handbook+economics+happiness&ei=W38dS_ilKIq6yQTLg5HQAg#v=onepage&q&f=true
(3) Luigino Bruni é Ph.D em economia, economista das universidasdes Bocconi e East Anglia, parecerista de uma importante revista internacional, pesquisa sobre os temas economia civil e economia das felicidade, sendo um dos principais expoentes do mundo nessas áreas. É ainda um importante pensador católico contemporâneo, membro do movimento dos Focolares.
(4) http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/96/96131/tde-15052007-142028/pt-br.php
(2)http://books.google.com.br/books?id=zCPzDfUlNpwC&printsec=frontcover&dq=luigino+bruni+handbook+economics+happiness&ei=W38dS_ilKIq6yQTLg5HQAg#v=onepage&q&f=true
(3) Luigino Bruni é Ph.D em economia, economista das universidasdes Bocconi e East Anglia, parecerista de uma importante revista internacional, pesquisa sobre os temas economia civil e economia das felicidade, sendo um dos principais expoentes do mundo nessas áreas. É ainda um importante pensador católico contemporâneo, membro do movimento dos Focolares.
(4) http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/96/96131/tde-15052007-142028/pt-br.php