"O abuso não tolhe o uso", diz o ditado romano.
A Igreja é uma sociedade que liga o Céu à Terra. Se muitas vezes no passado, e principalmente no passado recente, autoridades da Igreja e seus filhos tenham jogado à lama a face visível da Igreja, nada muda nesse sentido, pois como está dito acima, o abuso não tolhe o uso.
Pela sua natureza, a de levar todas as coisas da Terra ao Céu (e trazer o Céu à Terra), a Igreja não se baseia na opinião corrente, ou mesmo nas preferências de um ou de outro, ou mesmo na oposição a esse ou aquele grupo. A Igreja é uma sociedade totalmente diferente de todas sociedades que os homens e as mulheres possam formar. Ela é "a" sociedade por excelência, fundada por Cristo.
Ela até pode levar (e leva) essas mais diferentes questões em consideração. Mas ela se pergunta a todo momento o que cada coisa vale em si mesma, não o que uma determinada sociedade pensa delas ou como as põe em prática. Mas em que medida podem fazer bem ou mal ao homem, e isso vale para todas coisas, todas as coisas mesmo. E nessa direção já se fez as mais diferentes perguntas na sua longa jornada: os religiosos podem andar a cavalo, que era a montaria dos ricos? Podemos tomar café, que era a bebida dos muçulmanos invasores? Podemos ser comerciantes, que era a profissão de muitos fraudadores? Podemos estudar a filosofia dos gregos, que tem uma série de perigos? Os monges podem portar uma espada para defesa pessoal, que é usada por mercenários e ladrões? E etc, etc, etc...
E se pergunta a todo momento como essas realidades devem também consagradas e ordenadas em Cristo, Centro e Finalidade de todo o universo, Rei e Centro de todos os corações, como diz a Ladainha do Sagrado Coração de Jesus. Facilmente podemos concluir que uma vez que tudo que Deus fez (e inclusive o que ele colocou no coração do homem) é bom, todas as coisas devem ser reordenadas, purificadas em Cristo...é preciso recapitular todas as coisas em Cristo, as que estão nos céus e as que estão na terra (Ef 1,9 e 10). E não simplesmente escolher as coisas mais fáceis, mais agradáveis, que uma determinada sociedade acolha mais facilmente...pois como está dito, o abuso...e a missão da Igreja é muito mais elevada, incomparavelmente mais, do que agradar este ou aquele...
Até porque, nunca se ouviu dizer de um doente que gostasse logo de cara do remédio.
Até porque, nunca se ouviu dizer de um doente que gostasse logo de cara do remédio.
E isso não se deu sem várias polêmicas e debates ao longo da história...
Pensemos no caso de São Francisco de Assis. Estamos (ou estávamos até pouco tempo atrás) acostumados com a ideia dos frades franciscanos vivendo em pobreza absoluta. Eu arrisco imaginar que até hoje esse é o arquétipo no imaginário popular de um bom religioso.
Mas nem sempre foi assim. Após a morte de Francisco, grandes debates ocorreram na Universidade de Paris entre dominicanos e franciscanos de um lado e beneditinos de outro. Afinal, Jesus Cristo não foi mendicante, como entender a pobreza franciscana? E como conciliar o "Ora et Labora" dos beneditinos com a mendicância, que é justamente o "não-trabalho", "não-labora"?
Além disso, o estilo de vida de Francisco não seria uma afronta a grandes santos beneditinos, como São Bernardo Claraval, grande reformador moral de mosteiros, aquele do qual se dizia que depois da Virgem Maria foi quem mais fez milagres na Europa? Sem falarmos que os monges de São Bernardo eram exímios administradores de propriedades para o bem da comunidade e dos pobres.
E junte-se a isso o fato que os franciscanos discordavam entre si (e até hoje em alguma medida) sobre como viver a regra que Francisco lhes deixara...
É difícil para nós reproduzir o choque daquelas pessoas que viviam em um mundo rural, árduo em que a disciplina era a medida da sobrevivência a invernos rigorosos ver um grupo de frades que simplesmente se "recusava" a trabalhar. São Paulo não disse que quem não trabalha não deve comer?
É difícil para nós reproduzir o choque daquelas pessoas que viviam em um mundo rural, árduo em que a disciplina era a medida da sobrevivência a invernos rigorosos ver um grupo de frades que simplesmente se "recusava" a trabalhar. São Paulo não disse que quem não trabalha não deve comer?
A Igreja em sua infinita sabedoria, que é o Espírito Santo, conjuga contrastes harmônicos, por assim dizer, parafraseando uma bela expressão do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. E os concilia todos em uma ordem superior, que é Ela mesma.
A pobreza franciscana e a disciplina beneditina são traços do mesmo Deus, que se expressa na multiplicidade de dons e carismas. Na multiplicidade de traços e aspectos somos chamados a vê-lO. E assim, ao longo da história, diferentes famílias religiosas foram se formando, trazendo aspectos e explicitando atributos divinos para o bem de todos os homens, conforme a necessidade dos tempos, mas sobretudo pelos desígnios de Deus para nossa salvação.
A pobreza franciscana, bem sabemos, não é um "não-trabalho", é um testemunho vivo da existência real da Providência, um chamado ao abandono e à entrega total a Deus, porque os lírios dos campos não trabalham e nem fiam, mas nem Salomão se vestiu como um deles com toda a sua glória (cf Mt 6, 25-32). Evidentemente, um franciscano poderia escrever aqui bem melhor do que eu a esse respeito...
A pobreza franciscana, bem sabemos, não é um "não-trabalho", é um testemunho vivo da existência real da Providência, um chamado ao abandono e à entrega total a Deus, porque os lírios dos campos não trabalham e nem fiam, mas nem Salomão se vestiu como um deles com toda a sua glória (cf Mt 6, 25-32). Evidentemente, um franciscano poderia escrever aqui bem melhor do que eu a esse respeito...
Soube recentemente de uma ordem religiosa somente para irmãs cegas (Irmãs Sacramentinas de Dom Orione), outra para portadoras de síndrome de Down (Pequenas Irmãs Discípulas do Cordeiro), outra ainda só para cuidar dos leprsosos, as Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria fundada pelo impressionante Beato Luis Variara, salesiano...é infindável a multiplicidade de dons e de famílias de almas na Igreja...mas alguém poderia dizer: até aí tudo bem. Que Deus cuide dos pobres, todos sabemos, mas poderia Deus suscitar uma ordem militar? Afinal, a violência das armas parece tão contrária ao espírito do Evangelho...
Para isso, precisamos distinguir três coisas: primeiro, o papel da violência dentro do cristianismo. Segundo, fugir de um pacifismo ingênuo, que é diferente da busca da paz e da mansidão evangélica e por fim, em que consiste uma cavalaria, ainda mais uma cavalaria religiosa.
Dois soldados se aproximaram de São João Batista e lhe perguntaram como deviam viver. Ele disse apenas para se contentarem com seu salário e não extorquirem e nem fazerem violência injusta a ninguém (cf Lc 3,14), o que aliás é um tema sempre atual. Mas não disse para não serem soldados. A fragilidade humana, decorrente da doutrina do pecado original, implica em termos sempre alguma forma de vigilância na sociedade. Nada mais ilusório que o mito do bom selvagem rousseauniano, basta ver que os bons selvagens viviam (e se ninguém impedir ainda vivem) em guerra.
Quando as nações se tornaram católicas, nada mais natural que os soldados aos poucos também se organizassem segundo o espírito da Igreja, constituindo ordens, cavalarias e etc...
A respeito de um tipo ingênuo de pacifismo, podemos lembrar que São João Paulo II disse certa vez que desejava a paz a qualquer preço, mas não a qualquer custo. O santo papa, inclusive, permitia a posse de armas nucleares pelos países como forma de deterrência, ou seja, para evitar ser atacado por outro país. Obviamente, o Papa desejava o desarmamento, mas sabia que, ainda mais crescendo na Polônia comunista, o desarmamento em certos casos não traz a paz, mas apenas torna mais fácil a tomada por uma nação, ou um grupo, de intenções nefastas. A experiência histórica diz que, embora hoje vivamos em mundo menos violento do que aquele que emergiu do fim da Idade Média até a Segunda Guerra Mundial, quando ocorreram efetivamente as guerras nacionais, ainda assim, sempre há o risco da ambição, ou até a loucura humana, nos levarem aos mais terríveis conflitos. Portanto, preparar-se e defender-se, é um direito.
Assim, do dito até aqui deduz-se que a existência de armas e exércitos é e sempre foi algo lícito dentro do mundo cristão. Mas com isso desejo dizer que devemos formar um exército cristão? Um grupo paramilitar ou algo do gênero? Claro que não.
Pois a razão da Igreja, como está dito, é ligar o Céu e a Terra, sua missão é evangelizar. E somente conforme a sua influência vai assumindo naturalmente todas as coisas, todas as realidades, exércitos inclusive, vão sendo assumidas por ela, como foi na história. O que hoje, no nosso mundo secularizado e tão longe da Igreja, absolutamente não é o caso. Estamos mais perto da era dos mártires do que daquela dos santos reis cristãos, São Luís e São Fernando.
Nem todos foram chamados à pobreza franciscana. Mas ela em si era um sinal, querido por Deus para toda uma época. Da mesma maneira, hoje, ainda no seu início e no desejo de um dia dar à Igreja a mesma glória que franciscanos, beneditinos, salesianos e jesuítas deram e dão, surge uma cavalaria religiosa, na expressão utilizada pelo Cardeal Franc Rodé.
As quase ininterruptas derrotas que a Igreja sofreu no mundo, por dentro e por fora, há séculos, o medo gerado em todos pela possíbilidade real de pela primeira vez na história a humanidade poder aniquilar-se a si mesma e o ar de sensualidade e moleza implantado no mundo depois do grande triunfo do cinema americano, entre tantas outras coisas, contribuiu para que nós católicos nos tornássemos apáticos, anestesiados, muito prontos a ceder ao mundo na busca de um acordo, mesmo antes de consultar nossa própria história e cultura, quase incapazes de afirmar nossa fé diante desse mundo em que nos atolamos e afogamos...cada vez mais vamos nos refugiando em grupos cada vez menores de nós mesmos, mais nos consolando, do que avançando para evangelizar o mundo...
Revestí-vos da armadura de Cristo (cf Ef 6, 10 - 24), combatei o bom combate (cf 2 Tm 4, 7)! Assim como Santo Inácio não queria montar um exército regular ao fundar sua "companhia" e ao chamar todos a combater por Deus na sua regra e nem São Bento pensou nisso quando chamou os monges a militar por Cristo pelas arma da obediência, essa nova cavalaria religiosa tem outro objetivo, quer salvar almas.
Mas a sua mendicância consiste em honrar aqueles que defenderam a Igreja no passado, muitas vezes com o custo da própria vida, quer deles o mesmo desprendimento, a mesma disposição de dar tudo como nos pede o Evangelho e o mesmo destemor diante do mundo. E a quantidade de jovens e pessoas que têm se aproximado nos indica de que algo muito íntimo foi atingido no coração desses homens e mulheres das mais diferentes idades e condições de vida.
São Nuno, São Luís, São Fernando...e tantos outros, santos esquecidos que souberam ser firmes na hora de enfrentar os inimigos, mas também doces e misericordiosos. Mas e os excessos, os erros cometidos...?Como dito no começo deste texto, o abuso não tolhe o uso.
Se demônio manchou algo na história da Igreja, vamos alvejá-las no Preciosíssimo Sangue do Cordeiro, pois nEle devem ser recapituladas todas as coisas!
Para isso, precisamos distinguir três coisas: primeiro, o papel da violência dentro do cristianismo. Segundo, fugir de um pacifismo ingênuo, que é diferente da busca da paz e da mansidão evangélica e por fim, em que consiste uma cavalaria, ainda mais uma cavalaria religiosa.
Dois soldados se aproximaram de São João Batista e lhe perguntaram como deviam viver. Ele disse apenas para se contentarem com seu salário e não extorquirem e nem fazerem violência injusta a ninguém (cf Lc 3,14), o que aliás é um tema sempre atual. Mas não disse para não serem soldados. A fragilidade humana, decorrente da doutrina do pecado original, implica em termos sempre alguma forma de vigilância na sociedade. Nada mais ilusório que o mito do bom selvagem rousseauniano, basta ver que os bons selvagens viviam (e se ninguém impedir ainda vivem) em guerra.
Quando as nações se tornaram católicas, nada mais natural que os soldados aos poucos também se organizassem segundo o espírito da Igreja, constituindo ordens, cavalarias e etc...
A respeito de um tipo ingênuo de pacifismo, podemos lembrar que São João Paulo II disse certa vez que desejava a paz a qualquer preço, mas não a qualquer custo. O santo papa, inclusive, permitia a posse de armas nucleares pelos países como forma de deterrência, ou seja, para evitar ser atacado por outro país. Obviamente, o Papa desejava o desarmamento, mas sabia que, ainda mais crescendo na Polônia comunista, o desarmamento em certos casos não traz a paz, mas apenas torna mais fácil a tomada por uma nação, ou um grupo, de intenções nefastas. A experiência histórica diz que, embora hoje vivamos em mundo menos violento do que aquele que emergiu do fim da Idade Média até a Segunda Guerra Mundial, quando ocorreram efetivamente as guerras nacionais, ainda assim, sempre há o risco da ambição, ou até a loucura humana, nos levarem aos mais terríveis conflitos. Portanto, preparar-se e defender-se, é um direito.
Assim, do dito até aqui deduz-se que a existência de armas e exércitos é e sempre foi algo lícito dentro do mundo cristão. Mas com isso desejo dizer que devemos formar um exército cristão? Um grupo paramilitar ou algo do gênero? Claro que não.
Pois a razão da Igreja, como está dito, é ligar o Céu e a Terra, sua missão é evangelizar. E somente conforme a sua influência vai assumindo naturalmente todas as coisas, todas as realidades, exércitos inclusive, vão sendo assumidas por ela, como foi na história. O que hoje, no nosso mundo secularizado e tão longe da Igreja, absolutamente não é o caso. Estamos mais perto da era dos mártires do que daquela dos santos reis cristãos, São Luís e São Fernando.
Nem todos foram chamados à pobreza franciscana. Mas ela em si era um sinal, querido por Deus para toda uma época. Da mesma maneira, hoje, ainda no seu início e no desejo de um dia dar à Igreja a mesma glória que franciscanos, beneditinos, salesianos e jesuítas deram e dão, surge uma cavalaria religiosa, na expressão utilizada pelo Cardeal Franc Rodé.
As quase ininterruptas derrotas que a Igreja sofreu no mundo, por dentro e por fora, há séculos, o medo gerado em todos pela possíbilidade real de pela primeira vez na história a humanidade poder aniquilar-se a si mesma e o ar de sensualidade e moleza implantado no mundo depois do grande triunfo do cinema americano, entre tantas outras coisas, contribuiu para que nós católicos nos tornássemos apáticos, anestesiados, muito prontos a ceder ao mundo na busca de um acordo, mesmo antes de consultar nossa própria história e cultura, quase incapazes de afirmar nossa fé diante desse mundo em que nos atolamos e afogamos...cada vez mais vamos nos refugiando em grupos cada vez menores de nós mesmos, mais nos consolando, do que avançando para evangelizar o mundo...
Revestí-vos da armadura de Cristo (cf Ef 6, 10 - 24), combatei o bom combate (cf 2 Tm 4, 7)! Assim como Santo Inácio não queria montar um exército regular ao fundar sua "companhia" e ao chamar todos a combater por Deus na sua regra e nem São Bento pensou nisso quando chamou os monges a militar por Cristo pelas arma da obediência, essa nova cavalaria religiosa tem outro objetivo, quer salvar almas.
Mas a sua mendicância consiste em honrar aqueles que defenderam a Igreja no passado, muitas vezes com o custo da própria vida, quer deles o mesmo desprendimento, a mesma disposição de dar tudo como nos pede o Evangelho e o mesmo destemor diante do mundo. E a quantidade de jovens e pessoas que têm se aproximado nos indica de que algo muito íntimo foi atingido no coração desses homens e mulheres das mais diferentes idades e condições de vida.
São Nuno, São Luís, São Fernando...e tantos outros, santos esquecidos que souberam ser firmes na hora de enfrentar os inimigos, mas também doces e misericordiosos. Mas e os excessos, os erros cometidos...?Como dito no começo deste texto, o abuso não tolhe o uso.
Se demônio manchou algo na história da Igreja, vamos alvejá-las no Preciosíssimo Sangue do Cordeiro, pois nEle devem ser recapituladas todas as coisas!