Bem, na verdade ele não entendeu nada. Mas criou, de novo, uma boa polêmica, afinal todo Natal e Páscoa é isso agora. O que há de inteligente na polêmica é que ela se aproveita de uma ideia infelizmente bastante disseminada para fazer palanque desse novo velho progressismo que parece ter eleito “conservadores cristãos” como bodes expiatórios para todos os problemas que eles não sabem explicar.
Bem, Jesus andou com as prostitutas e os ladrões não condenando ninguém e foi um grande revolucionário, realizando inclusive o milagre da multiplicação dos pães, morto por um crime político, um autêntico líder de esquerda, certo? Errado.
É verdade que Jesus perdoou a prostituta, ou a mulher adúltera, que perdoou na cruz um bandido e que realizou o milagre da multiplicação dos pães. Mas havia muitas prostitutas em Israel, e apenas uma foi perdoada. Na cruz haviam dois bandidos, um deles blasfemava e o outro foi perdoado. Jesus multiplicou os pães, mas quando o quiseram fazer rei por conta disso, despediu a multidão e os acusou de interesseiros.
Assim, não se pode dizer que foram as prostitutas, os bandidos ou os pobres que Jesus acolheu, os outcasts. Mas sim, os penitentes.
Mas, penitentes, essa palavra quase desconhecida da nossa época...o que viriam a ser esses penitentes?
O ladrão, a prostituta e tantos outros, reconheceram a existência de algo maior do que eles e a partir desse novo critério, perceberam que andavam mal. E a prostituta lavou os pés do seu mestre com as próprias lágrimas e o bandido, à beira da morte, soube levantar a sua voz para defender à sua honra e ainda fazer uma das mais belas profissões de fé da história...” Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”...
No fundo, somos como esses dois ladrões. E escolhemos a penitência ou a blasfêmia. A vida ou a morte. E mesmo que não tenhamos cometidos crimes graves, quando percebemos a presença de Deus e nos damos conta de todo o bem que poderíamos ter feito e não fizemos, nos reconhecemos não mais do que um ladrão. Um ladrão que recebeu o dom da vida para compartilhar com todos, mas que a guardou só para si.
E quanto mais nos aproximamos da luz, mais percebemos nossos defeitos, erros, vícios, imperfeições, mesmo que para os padrões desta época, que aliás são bem baixos, sejamos pessoas extraordinárias, grandes empreendedores, mães, pais, profissionais, etc...Santo Afonso de Ligório, o maior moralista da história da Igreja dizia que “quanto mais se varre, mais poeira se levanta” e ele, homem santo, soube ao fim da vida dizer: “que bom, não irei mais pecar”. Quanta arrogância, nós, “os certos”, acharmos que merecemos alguma coisa.
Mas quando fazemos penitência, batemos no peito e pedimos perdão, e olhando para cruz pedimos forças para sermos melhores, para sermos o que reconhecemos que não podemos ser sozinhos, oh glória! Oh alegria!
A Igreja soube elevar a adúltera penitente como a primeira entre as virgens. Na Ladainha de Todos os Santos, uma das ladainhas oficiais da Igreja, na parte das virgens, depois de Nossa Senhora temos Maria Madalena, a penitente. Esta mulher que o Evangelho diz que “muito amou e por isso muito foi perdoada".
Ao colocar a pecadora como a primeira no coro das virgens, a Igreja nos ensina que mais do que somente nos perdoar, Cristo deseja se dar inteiro a nós, todo o seu coração, toda a sua vida, não para que sejamos apenas perdoados, mas para atingirmos toda a plenitude de seu amor, como diz Santa Teresinha. E foi assim que a pecadora conseguiu ultrapassar muitos santos e atingir um dos lugares mais altos no céu, porque ela muito amou. Mas, poderíamos dizer, para muito amar, muito mais ela se deixou ser amada.
Na nossa época de vidas dilaceradas, é comum as pessoas desanimarem, desencantarem, viverem um plano B de si mesmas. Maria Madalena, a penitente, nos ensina que há um desígnio, um caminho, uma estrada superior que desconhecemos, um atalho secreto, que nos leva da morte à plenitude de nós mesmos. É preciso deixar-se amar.
E por fim, não poderia deixar de agradecer ao Duvivier, que achando que está chutando um cachorro morto, nos dá possibilidade de conseguir alguns leitores às custas dele. Afinal, como nossa popularidade não costuma ser muito alta, ele acaba aumentando o acesso a blogs e textos católicos com as suas polêmicas pelo menos no Natal e na Páscoa. A Igreja é uma bela jovem de 2000 anos, uma pessoa sensata vai pelo menos lhe pedir uma opinião.
Embora a Igreja não revide os ataques que recebe, como já se disse certa vez, é uma “bigorna que tem desgastado a muitos martelos”. E sobre essa história de onde está Deus, onde está a autoridade da Igreja, bem poderíamos responder: na sua consciência. Pois escrever sobre nós nas nossas festas, é uma coisa que até Freud explica.