Por que eu creio

Em 1996, com 13 anos, participei de um retiro para adolescentes convidado por amigos. Eu estava interessado em uma menina que ia participar e em jogar futebol nos momentos de recreação, havia um campo muito bom naquele lugar. E em um dos momentosdesse retiro tive uma experiência religiosa que me marcou por toda a minha vida, e que marca minha conversão ao catolicismo.

Antes do primeiro momento do retiro, foi realizada a entrada de uma imagem de Nossa Senhora. Alguns adolescentes se emocionaram muito e aplaudiram. Eu fiquei desconfortável com aquilo, não aplaudi. E pensava comigo que estavam fazendo lavagem cerebral naqueles adolescentes. 

Em uma das noites do retiro, a segunda, pelo que me lembro, foi realizado um momento de adoração. A adoração consistia em cantos e leituras espontâneas de trechos bíblicos, conforme os adolescentes sentiam impulsionados a fazer. Isso diante da hóstia consagrada exposta, o Santíssimo Sacramento. 

A certa altura, o diácono que presidia o momento encontrou um crucifixo partido, se não me engano, sem os braços e as pernas. Perguntou se era de alguém, pediu que checassem seus terços para ver se alguém tinha perdido e não era ninguém. Ou ninguém deu falta dele. E a a partir desse crucifixo começou uma pregação com "Estamos mutilando o Corpo de Cristo..."

Nesse momento, eu me irritei, me senti acusado de algo e achei que o diácono exagerava e tentava me induzir a alguma coisa. Mas por este momento tive uma dúvida. E se fosse verdade? 

E nesse momento, olhei para a Hóstia Consagrada no meio do salão e disse interiormente:  “Senhor, se o Senhor é verdade, eu quero te conhecer”.

Não consigo descrever exatamente o que aconteceu. De repente, é como se eu me visse (mas não via, embora sentisse), diante de um homem, que eu sabia interiormente que era o Cristo. E diante dele, é como se eu visse toda a minha vida e me sentia profundamente pequeno, me vinha à mente a palavra mediocridade e via como minha vida havia sido medíocre até ali. E eu sentia uma dor enorme, profunda, por perceber que eu não tinha nada para entregar para Ele, via que até ali não havia feito nada de verdadeiramente bom na minha vida. 

Interiormente eu me arrependi, sem conseguir formular uma frase de arrependimento, e imediatamente me senti como que mergulhado em um fogo e me sentia amado, amado, amado como nunca havia sentido antes e como até hoje não consigo expressar. Imensamente amado, e eu sabia, de alguma forma, que diante de mim estava o Cristo, que havia morrido na cruz para me salvar e que Deus são três pessoas em um só Deus, e que Cristo falava comigo por meio do Espírito Santo.

Fora do salão caia uma chuva torrencial e lembro que este momento se encerrou juntamente com o fim da chuva. 

Eu olhei o relógio e vi que haviam se passado cerca de duas horas, mas eu sentia como se fossem quinze minutos. E eu me sentia leve, novo, Como nunca me havia sentido. No dia seguinte me chamou a atenção que até no futebol eu tinha mais agilidade e leveza. 

E eu olhava para as pessoas no salão, os outros adolescentes, e eu os amava, sabia que eram meus irmãos, eu os amava mais do que havia amado minha própria família até ali. E eu refletia pensando que aquele sentimento não era meu, afinal horas antes meus sentimentos eram totalmente diferentes e eu percebia que era algo que me havia sido dado, sem esforço. 

Mas, mesmo depois do fim da oração, eu ainda sentia a "presença" de Deus. Era como se o ar, que antes eu achava vazio agora estava preenchido, denso. E eu continuava a falar com Ele interiormente. No caminho entre o salão e o lugar que dormíamos eu ia falando interiormente: "Senhor, o que eu posso querer agora?", "Eu quero o Senhor". E refletia "eu encontrei a chave que abre a História". E ficava profundamente comovido, embora não derramasse lágrimas ou algo do gênero, mas sereno, em paz, com uma paz sólida, indestrutível. 

E para mim, a memória deste momento é o ato fundamental da minha fé. E que para mim parece que foi ontem, acredito que não passei um dia de minha vida desde então sem pensar no que se passou. 

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