Archive for 2011

Família


Um mal necessário? Casar e ter filhos para quê?!

Pensar sobre a família é uma discussão bastante pertinente para a véspera do Natal. Ainda mais nos dias de hoje. Certa vez um padre me disse que num levantamento informal na sua paróquia observou que apenas 50% dos casais que viviam juntos se casavam na Igreja. Hoje 40% dos casamentos com menos de 10 anos terminam em divórcio, taxa que tem aumentado a cada ano. Nos últimos dois anos esta taxa sofreu um acréscimo de 36% (1).

Se por um lado é triste observar a falência do casamento como instituição social, por outro lado esta crise acaba colocando em evidência uma dimensão que antes era pouco percebida do casamento, sua dimensão religiosa. Hoje parece mais claro que ou o casamento é alicerçado na fé ou sofre tantos ataques que não consegue permanecer em pé.

Toda crise também carrega em si uma purificação. Afinal, o casamento como instituição carregou uma série de práticas e valores nem sempre cristãos ao longo dos séculos e se o casamento natural como é conhecido de todos os povos pode entrar em extinção no Ocidente, o casamento cristão por sua vez sobreviverá. E sobreviverá mais cristão ainda, purificado daquilo que na verdade nunca lhe fez parte, como certas práticas machistas, ou o autoritarismo dos pais.

É um mistério muito grande pensarmos em Jesus no seio da família de Nazaré. Pois o Senhor viveu todos os sofrimentos, todos, ou melhor, todos com a exceção de um: o de não ser amado pelos pais. Jesus conheceu a fome, a pobreza, o exílio, a morte, a humilhação...mas não soube durante sua vida terrena o que é não ser amado pelos pais.

Será que dessa maneira Nosso Senhor nos mostra que a família não é algo externo a ser enfrentado, mas algo interno, de nossa constituição, interior e, portanto, inviolável? Será que assim Ele fala do papel fundamental de educadores dos pais, que não pode ser substituído, que é tão íntimo para os filhos que passa a ser parte deles?

Penso ainda nas mágoas e traumas que todos nós em maior ou menor grau carregamos de nossos pais. Esta dor Nosso Senhor não teve, apenas por compaixão. Penso que por isso deve olhar com profunda misericórdia sobre nós, sabendo que essas feridas são profundas, são alicerces mal feitos que comprometem todo edifício e que portanto atenuam aquilo que depois foi mal construído. Com seu Amor de Pai Nosso Senhor restitui esses alicerces.

E vamos assim descobrindo tesouros ocultos no patrimônio da Igreja, como por exemplo São João Crisóstomo que no século IV dizia para os esposos dizerem para suas esposas:

Tomei-te nos meus braços, amo-te e prefiro-te à minha própria vida. Porque a vida presente não é nada e o meu sonho mais ardente é passá-la contigo, de tal maneira que tenhamos a certeza de não ser separados naquela que nos está reservada [...]. Eu ponho o teu amor acima de tudo, e nada me seria mais penoso do que não ter os mesmos pensamentos que tu.

Este texto é parte do Catecismo da Igreja Católica e é tão belo quanto desconhecido(2).

Santa Isabel de Hungria, rainha e santa, dizia referindo-se ao seu marido:

Se eu amo de tal modo uma criatura mortal, como deveria amar ao Senhor imortal, dono da minha alma?

Ainda no tempo do Império Romano, muitas mulheres se convertiam ao cristianismo em busca de um “bom casamento”(3), já que os noivos cristãos não traiam e não abandonavam suas esposas. Lembrando que naquele tempo, ser abandonada pelo marido significava ficar sem fonte de renda, um objeto usado que ninguém mais iria querer. E é triste notar como muitos, com outras linguagens nos dias de hoje, acabam se conformando com esta mentalidade, trazendo de volta algo que o cristianismo já havia derrotado na história.

Uma história muito bonita é a de Luis Martin e Zélia Guérin que desejavam a vida religiosa, mas que por uma série de dificuldades e obstáculos não conseguiram e que por fim descobriram que sua vocação era, na verdade, o casamento. Casamento que teve muitas dores, como a perda de filhos, mas que foi muito feliz. Um dos filhos de Luis e Zélia Martin se tornou bastante conhecido: Santa Terezinha do Menino Jesus. Eles viveram no final do século XIX uma realidade que é muito importante para nossos dias: o casamento como uma via religiosa.

Não apenas como cooperação com a obra criadora de Deus por meio do nascimento e da educação dos filhos, o que já seria muito, mas como uma via de perfeição, de purificação interior, de ascese. Uma forma de ver de forma mais clara o rosto de Cristo e de torná-lo mais claro em nós.

Karl Rahner dizia que os cristãos de nosso tempo ou se tornariam místicos ou já não conseguiriam viver a fé. E penso que isso vale principalmente no âmbito familiar, é preciso saber, assim como a família de Nazaré, que não estamos somente cuidando da casa, ou de crianças, mas que em comunhão com Deus estamos salvando o mundo, por meio de pequenos sofrimentos que nos unem aos sofrimentos dEle.

Assim, todo o cuidado com os esposos e os filhos não são apenas gestos de ternura, de desapego, de dever. Essas coisas compõem, na verdade, um verdadeiro itinerário espiritual.

(3)     Como a Igreja Católica construiu a Civilização Ocidental, Thomas E. Woods Jr, graduado em Harvard e PhD pela Universidade de Columbia

Posted in | Leave a comment

As Mentiras que as Pessoas contam



Carreira, sexo e família

Uma vez, quando era estagiário de uma multinacional, numa reunião dos estagiários a diretora de RH disse que o plano da organização era que um dia nos tornássemos diretores. Eu contei 40 estagiários e vi apenas quatro diretores na empresa. E pensei comigo que havia alguma coisa errada com esse plano. 

Outro dia estava participando de uma entrevista de emprego e a responsável do RH me disse que eu seria entrevistado pela minha futura gerente, que fez questão de vir, mesmo tendo sofrido um acidente há poucos dias. A moça me disse isso com um ar de veneração pela chefe, verdadeiro exemplo de dedicação ao trabalho.

Mas quando chegou a gerente, não conseguia entender uma palavra do que ela dizia. Ela estava com os dois braços engessados e um aparelho na boca. Ela não se mexia direito e eu não conseguia entender o que ela falava. Para que isso?! Esta mulher não deveria estar em casa descansando? E também não seria mais produtiva assim? Acabei não ficando com a vaga por uma série de razões, mas a maneira como aquelas pessoas encaravam o trabalho me fez pensar que aquela não devia ser a maneira correta de se viver.

Muitas pessoas da minha geração compraram a ideia de que o trabalho é o lugar por excelência de realização pessoal. E muitos católicos vêem em assumir posições mais elevadas no trabalho uma meta de vida. E alguns chegam até o extremo de ver no sucesso profissional um sinal do amor de Deus e reclamam quando não são os escolhidos e quando não estão com as melhores posições! E esquecem completamente que não é o que mais trabalha que é o mais recompensado e nem o mais honesto o mais privilegiado e isso se apreende dos livros de sabedoria da Bíblia.

O mundo é bom e devemos procurar a felicidade. Mas sabendo que a felicidade completa existe somente em Deus, que a felicidade aqui neste mundo estará sempre sujeita à imperfeição e será, quando bem vivida, apenas semente de uma árvore que brotará para a eternidade.

É triste notar quantos católicos se fazem de cegos diante das trapaças, mesquinharias e mentiras que se tornou o ambiente de trabalho no mundo contemporâneo. E mais ainda quando não chamam essas coisas pelo nome e dizem fazer parte do trabalho, parte do relacionamento do dia-a-dia! Na verdade, deveria nos surpreender alguém que diz ter aderido à fé imaginar que pode encontrar uma realização completa neste mundo, afinal, se aderiu de verdade, por mais que se esforce, será sinal de contradição e irá gerar resistência e não aplauso da grande maioria das pessoas.

Não quero dizer que os cristãos devam viver emburrados no seu trabalho sem acreditar que algo de bom pode ser realmente feito. Podemos ser felizes. Mas não deste jeito, não nos rendendo a esta mentalidade.
Somos felizes quando vencemos o mundo. A vitória do Senhor foi a morte inglória seguida da Ressurreição para a vida nova. Assim, se nEle queremos encontrar a felicidade, devemos enfrentar nossas pequenas cruzes, buscar a verdade em todos os contextos, sempre mirando mais longe, para a vida que está além desta, sabendo que ter ou não ter reconhecimento não depende de mim. Pode ou não ser interessante nos desígnios de Deus, o que importa é que eu trabalhe bem, fazendo a minha parte com todo amor que eu puder, sendo este amor encarnado em gestos concretos. Querer ser o melhor é simplesmente pecado, querer ganhar cada vez mais para si é ganância. Assim como não defender alguém acusado ou maltratado injustamente é somente covardia. E não há bem nenhum nessas coisas.

O outro mito da minha geração é que a felicidade está associada diretamente ao sexo.

Mesmo bons católicos, muitas vezes se veem tão seduzidos por essa ideia que acabam criando uma espécie de cristianismo sexy, como se fosse possível algo desse gênero. Vão à Missa, rezam com frequência, conhecem os documentos da Igreja, mas lançam seu charme sobre qualquer pessoa do sexo oposto que passe e se acham românticos por fazerem isso. Pensam que ser cristão é ser delicado com as palavras, gentil, amável e...sedutor. Mas não é nada disso.

O cristão não é apenas um namorado ou uma namorada mais romântico ou dedicado. É alguém disposto a amar de corpo inteiro, de alma inteira e até à morte. Alguém que não está contente por simplesmente não trair, mas alguém que não se permite trair em pensamento! Alguém disposto a suportar dores e sofrimentos se for necessário, a chorar junto, a servir e que nesse desprendimento encontra uma alegria verdadeira, que não é deste mundo.

Muitos concordam com a ideia hoje amplamente difundida de que a castidade, e ainda mais a virgindade, é alguma forma de repressão sexual. E bons católicos encontram dificuldades para rebater essa ideia, vivendo uma vida do “quase-sexo a todo instante” como uma forma de conciliar o ideal cristão com a mentalidade contemporânea e às vezes por viverem dessa maneira ambígua acabam ficando reprimidos de verdade,rs.

Não se dão conta que a imensa exposição que o sexo tem hoje no fundo mascara uma profunda frustração. Hoje, se abrirmos qualquer um dos principais jornais online do mundo teremos pelo menos três notícias associadas a sexo. Desde propagandas de sorvete até bonecas para crianças, tudo tem apelo sexual. Mas não nos damos conta que isto é apenas uma grande frustração.

O bêbado sempre acredita que a realização completa está na próxima pinguinha, por isso que continua bebendo. Se ele de fato tivesse desfrutado da pinguinha estaria saciado e não continuaria bebendo. Nunca houve tanto adultério, traições e sexo, mas todos imaginam que se ainda estão insatisfeitos é porque não tiveram sexo suficiente.

A felicidade no sexo está associada à confiança. Confiança que gera uma entrega completa e que tem por resultado um imenso prazer. Mas como posso ter confiança plena em alguém que não declara seu amor por mim publicamente e que não me assume até a morte? Como posso dizer: me entrego inteiramente a você, mas se amanhã não me quiser mais tudo bem...que tipo de lixo seria eu?

Não é o casamento este vínculo inteiro, público, de corpo e alma que torna tudo isso possível?

Se alguém se deita com alguém que entrega seu corpo, mas não sua alma, está apenas fazendo sexo com um cadáver. Um pedaço de carne inerte, que hoje vive, pleno de hormônios, e amanhã apodrecerá e não deixará nada atrás de si.

É verdade que existem nuances, detalhes e que a vida da cada um de nós pode ser medida somente por Deus no seu último dia. Mas é preciso que as referências sejam claras para que olhando tanto os diferentes matizes, não esqueçamos que existem cores. E dizer com todas as letras que se vivemos assim somos apenas bêbados e não sabemos. Somos apenas bêbados, tomara fiquemos sóbrios um dia.

Posted in | 2 Comments

A FÉ DA CRIANÇAS

Quando eu tinha 16 anos, fui convidado para ser professor de catecismo de crianças de 9 e 10 anos. 


Eu me esforçava para tornar as aulas o mais atraente possíveis com jogos de futebol, brincadeiras na capela, por falta de experiência e para espanto das catequistas mais velhas e visitava as famílias para falar sobre a importância dos sacramentos.

Eu posso dizer que me divertia bastante com as crianças. Dois meninos depois me convidaram para ser padrinho de Crisma deles.

Mas me incomodava a dúvida de que eu estaria induzindo elas de alguma forma a acreditarem na minha fé e se isso não seria injusto com a liberdade delas.

Para harmonizar essas dúvidas com a necessidade de dar as aulas, eu tentava falar muitas vezes sobre a liberdade de escolha e de que eles não eram obrigados a participar.

No final de uma das aulas, uma aluna, Bruna, ficou me esperando no final da catequese, pediu para falar comigo.

No final da aula ela estava ela ainda me esperando e me disse:

“Professor, lembra quando o “senhor” falou que tudo que a gente pedisse com fé, Deus atenderia?”. “Lembro”, disse. Em todos os encontros fazíamos uma oração inicial e final muito simples. Dizia para as crianças que pedissem as coisas a Deus com simplicidade e confiança. Elas apresentavam suas intenções, rezávamos o Pai-Nosso, o Vinde Espírito Santo e uma Ave-Maria. E então me disse:

“Então, eu estava andando com a minha mãe e a Larissa (outra aluna) e aí eu disse, vamos tentar fazer aquilo que o professor falou?”. E ela relatou que depois de dizerem isso e começarem a rezar enquanto passeavam, ela sentiu “um amor muito grande e um desejo muito forte de ajudar os pobres, disse ainda que ficou com as “pernas moles” e que não conseguia sair do lugar, tanto que ela acabou ficando para trás junto com a amiga, que começou a rir dela pelo fato dela não conseguir andar. E depois de me contar isso, ela me perguntou: “Professor, é Deus?”.

E eu disse: “Sim, Bruna, é Deus”.

Eu fiquei imensamente feliz e comovido de Deus se permitir responder assim a uma dúvida minha. E ainda por conceder esta graça tão grande a uma criança.

Em outras ocasiões novamente tive dúvidas interiores a respeito da relação entre liberdade e fé. Mas este fato serviu para mim como um sinal, de que a fé não viola a liberdade das crianças, pelo contrário.

É claro que para mim este fato serviu como base para justificar o ensino religioso e a catequese para as crianças, mas não pretendo apresentá-lo como argumento para um debate público sobre o tema, afinal, esta aí uma experiência que não pode ser acessada por todos e verificada, por assim dizer, empiricamente.

Mas entendo que o efeito positivo da vida da fé nas crianças pode ver verificado por outras consequências, essas acessadas por todos, como saúde psicológica e o bem-estar em geral das crianças.

Ocorreram ainda dois outros fatos interessantes nos dois anos em que dei aulas de catequese.

Era costume da paróquia naquela época pedir que as crianças contribuíssem com uma taxa (bem pequena, é verdade) antes de receberem o sacramento. Ninguém iria negar o acesso ao sacramento caso uma criança não pudesse contribuir, mas isso me incomodava. Escrevi aos pais das crianças que todos aqueles que quisessem poderiam contribuir com o valor que quisessem. Alguns contribuíram com um valor menor, outros com um valor menor ao que tinha sido inicialmente pedido pela paróquia. No final, eu arrecadei exatamente o valor que a paróquia havia solicitado para o total da turma.

Eu ainda me preocupava naqueles dias com o que eu achava falta de liberdade e uma péssima didática, que hoje percebo serem mais os efeitos das ideologias da época sobre mim do que propriamente um problema e ensinava os alunos com diversos métodos alternativos e apresentava os conteúdos de forma não muito linear.

Certo dia, o coordenador dos professores ficou preocupado se eu estava afinal ensinando o conteúdo correto para os alunos, que eram os 10 mandamentos, e foi, com muito jeito, depois da "denúncia" de um pai por meus métodos alternativos, checar na minha aula se os alunos haviam aprendido. Para minha surpresa eles sabiam os mandamentos em ordem.

Para mim isto foi uma sinal de como a Providência de Deus supre nossas limitações e nos socorre, já que eu nunca havia ensinado os alunos daquela forma. Eu fiquei surpreso quando eles lembraram dos mandamentos em ordem.

Essas são coisas que eu guardo no coração, como preciosos sinais. Eu não quero impô-los a ninguém, obviamente, mas acredito que não seria justo não compartilhar, ainda  mais em nossa época em que todas essas coisas são desafiadas pela cultura contemporânea.

Posted in | Leave a comment

A Igreja, o Censo e os Números

Mais um artigo sobre a Igreja e o Censo Religioso
Na semana passada estava lendo o site de ex-alunos da minha faculdade e me deparei com um artigo muito interessante sobre uma empresa social espanhola, a Fundació Futur (Fundação Futuro)*. Para quem não está familiarizado com o termo ,“empresa social” trata-se de empresas que operam normalmente (buscam lucro e profissionalizam sua gestão) mas que tem fins sociais, existem para atender uma demanda social. A Fundação Futuro, por exemplo, é uma empresa de catering (buffet) que existe para empregar  pessoas em vulnerabilidade social, principalmente ex-presidiários. Este tipo de trabalho é o que há de mais novo em desenvolvimento social.
Conforme fui lendo sobre a Fundação Futuro , descobri que ela contou com uma doação de terreno das Irmãs Hospitaleiras e com o suporte da Cáritas de Barcelona no início. Não fiquei surpreso por encontrar mais um trabalho de vanguarda sob a influência da Igreja Católica. Nos últimos anos tenho descoberto cada vez mais casos desses e sugiro para quem tiver interesse procurar saber mais sobre Cavaleiros de Colombo, Economia de Comunhão e o início do cooperativismo nas Cooperativas de Mondragón, fruto do trabalho de um padre jesuíta.
O que me surpreende cada vez mais é não ouvir a respeito dessas iniciativas nas Paróquias. E conviver com esse dualismo: de um lado a Igreja que vivo, descubro e me encanta a cada dia mais e de outro a propaganda que a própria Igreja faz de si mesma, como uma instituição arcaica, triste e decadente.
E é exatamente este estado de ânimo que me vem à mente quando ouço muitos comentários, da própria Igreja, sobre o último censo religioso**.
O fato de existirem 2 ou 2 bilhões de católicos não faz a menor diferença para minha fé. Mas gostaria de comentar a respeito do censo no intuito de tentar vencer este estado de ânimo que assola boa parte da Igreja, minando a confiança do povo simples e dando espaço a vozes que não contribuem em nada com a purificação e o desenvolvimento da Igreja.
Muita gente ficou apreensiva com o fato do número de pessoas que se declaram católicas ter reduzido de 73 para 68%. Mas temos que ter em mente que mesmo esses 68% são pura ilusão. Se todos católicos forem à Missa no próximo domingo, não teremos lugar nas Igrejas. E mesmo se 20 anos atrás todos fossem à Missa, também não teríamos lugar para todos. Considerando-se que em nosso país entre 36 e 48%*** da população frequenta o culto pelo menos uma vez na semana, o que temos é algo entre 24 e 32% dos brasileiros que freqüentam as paróquias.
Falar de um país religioso é também uma outra ilusão que se tem a respeito do Brasil. Pela mesma pesquisa citada acima, o Brasil está em 17º em uma amostra de 53 países, atrás da Bélgica, do Canadá e uma posição à frente da Holanda, países que dificilmente consideraríamos religiosos.  O Brasil é historicamente um país sincretista, pouco fiel a ortodoxias, sejam elas quais forem. O que entendo que tem ocorrido nas últimas décadas é uma migração de não-praticantes para outros grupos religiosos à medida que a Igreja foi perdendo, no Ocidente inteiro, seu status de religião oficial. E convenhamos, o status de “religião oficial” talvez tenha feito mais mal do que bem à Igreja.
Um dado interessante que contradiz esta imagem da “perda de fieis” é o número de novos templos e paróquias da última década. Uma Igreja que perde fieis não é uma Igreja que constrói templos.  Seria interessante ter da CNBB estes números. O fenômeno brasileiro é bem diferente do que ocorre na Europa e em lugares como o Japão.
Na base de dados da Wolrd Values Survey (WVS)****, encontramos mais um dado interessante: de 1991 até 2006, o número de brasileiros que freqüentam o culto uma vez por semana ou mais cresceu consistentemente de 33,6 para 48,6%. Este número indicaria que, apesar do país estar passando pelo mesmo processo de secularização de outros países ocidentais, este processo está sendo acompanhando pelo crescimento do número de praticantes da religião.
O número de pessoas que participa do culto mais de uma vez por semana saltou de 12,6 para 22,3%, um aumento proporcional de 77%, segundo a WVS. Um outro dado que não pode ser desprezado é o fato da Igreja Católica contar ainda com o maior encontro de jovens do mundo, a Jornada Mundial da Juventude.
O número de ordenações no mundo tem se mantido estável, tendo tido inclusive um ligeiro aumento em alguns anos da última década. Na Ásia, a Igreja cresceu 10% entre 2008 e 2009, o que é um número bastante importante, tendo em vista a perseguição que a Igreja sofre na China, na Índia e no Oriente Médio. O número de seminaristas também aumentou nesse biênio e o número de diáconos permanentes cresceu mais de 2,5%*****. Os clérigos e religiosos da Igreja Católica somam cerca de 1 milhão de 200 mil pessoas******.
Para se ter uma ideia sobre o tamanho do clero católico, basta pensar que a Unilever, uma das maiores multinacionais do mundo conta com 167.000 colaboradores*******, para as quais ela tem que pagar um bom salário. A Igreja por sua vez conta com quase 10 vezes mais pessoas que além de não receberem um bom salário (deve estar entre as menores remunerações para quem tem ensino superior no mundo) doam suas vidas e fazem enormes sacrifícios pessoais para se dedicarem a ela inteiramente.
Ao invés pensar sobre os milhões de fieis que perdemos, que na verdade nunca tivemos, temos que pensar na força que temos com mais de um milhão de consagrados no mundo e cerca de 45 milhões de praticantes somente no Brasil. O número de católicos na grande São Paulo talvez seja maior que o número de cristãos que existiu em Roma antes de Constantino. Se aqueles homens puderam fazer tanto e remodelaram o mundo, o que podemos fazer nós que somos muito mais e ainda contamos com o mesmo Espírito?
Explorar bem o potencial que temos, fazer um bom trabalho, é nosso maior desafio em termos organizacionais, um desafio talvez maior do que a crise cultural que o Ocidente atravessa.
Mas também existem dados que são bastante preocupantes.
Em 2000, o número de pessoas adultas que se batizaram na Igreja Católica nos EUA atingiu um pico histórico de 172.581 pessoas********. O que é um imenso contra-senso, uma vez que em 2000 a secularização da sociedade americana era tão forte quanto agora. Nos anos seguintes ocorreu a divulgação dos escândalos de pedofilia na Igreja americana, o que levou uma queda desse número para o patamar dos 100.000, sendo que já em 2001 houve uma queda de 12% no número de novos católicos adultos.
O comportamento das lideranças da Igreja é em grande parte responsável pelo fato de encontrarmos poucos adultos entrando na Igreja Católica. Não podemos pensar somente na disciplina do clero, mas também nas lideranças leigas, que tem pouco ou nenhum controle por parte dos bispos. Deixar a liderança da Igreja nas mãos de pessoas muitas vezes despreparadas e instáveis emocionalmente pode causar um grande dano a essas pessoas e à Igreja como um todo. Ao falar sobre o trabalho e a disciplina dos leigos, lembro ainda que muitas das pessoas que retornam à Igreja para os sacramentos são recebidas por cursos de noivos e de batismo de baixíssima qualidade, o que também é um ponto importante a ser trabalhado.
Outro dado que merece nossa atenção é a queda drástica no número de religiosas em quase todo o mundo, diminuindo entre 2 e 3% ao ano nos último anos******. Dos cerca de 1,2 milhão de clérigos e religiosos católicos, 700 mil são religiosas, cerca de 58%. O que tem afastado as mulheres da vida consagrada? Falamos muito da falta de padres, mas são as mulheres que mais tem deixado a vida consagrada.
De maneira geral, apesar da preocupante secularização do Ocidente, há números que são bastante favoráveis à Igreja, apesar dos desafios. Eu tenho muitas razões para ser otimista. O fato da Igreja Católica se transformar em uma minoria, mesmo entre os cristãos, é uma possibilidade real, mas acredito que não devemos nos preocupar com isso. Primeiro porque a missão da Igreja não é arrebanhar números. Nosso Senhor não morreu para salvar uns 15% ou 75%, rs. Morreu por cada um. Amou cada um. E ainda que nenhum de nós acolhesse seu Amor, Ele teria morrido pela possibilidade de que apenas um de nós se salvasse. Ele morreria pela chance de me salvar!
Além disso, a ação da Igreja no seio da humanidade é um mistério. E os apóstolos já sabiam disso quando ainda eram uma comunidade pequenina, mas que de forma ousada sabia que cada gesto seu servia para salvar a humanidade inteira. Ofereciam sacrifícios por todos os homens, eles que eram tão poucos. Que ousadia essa de um grupo de poucas pessoas assumir sobre si a responsabilidade pela humanidade inteira!
E o mesmo Espírito que fez surgir franciscanos, beneditinos, jesuítas e tantos outros, é o mesmo que faz surgir as Novas Comunidades, é o mesmo que nos conduz, mesmo quando cegos pelos nossos erros não vemos. Quem poderia prever tudo isso nos anos 60? Quem imaginaria essa “perda” de fieis? Mas quem também imaginaria a RCC, as Novas Comunidades, tantas conversões? Eu cresci em uma família que aos poucos se converteu e redescobriu a fé católica (não só meus pais retornaram à fé, mas tios, avós, primos e conhecidos...), em uma cidade do interior que contava com 2 paróquias quando eu era criança e hoje conta com 9 com pelo menos mais uma capela por paróquia, sendo que a população diminuiu nos últimos 10 anos. O mesmo Deus que fez isto em minha casa pode fazer o mesmo no país e no mundo inteiro.
Em Fátima, Maria profetizou que em muitos lugares do mundo se perderia a fé, São João Bosco falava de tempos difíceis para a Igreja...se já vimos o cumprimento dessas profecias, acreditemos também na segunda parte dessas mesmas profecias: por fim, o Coração de Maria e a Eucaristia nos trarão a paz! Sejamos fieis, não medrosos!


*http://www.fundaciofutur.org/eng_catering.htm
**Pesquisa de Orçamento Familiar, IBGE 2011
*** http://www.nationmaster.com/graph/rel_chu_att-religion-church-attendance, baseado na World Values Survey (WVS), uma base de dados bastante utilizada pelos pesquisadores. A margem de 26 a 32% foi montada com as informações deste site e última pesquisa da WVS que pode ser encontrada no site http://www.worldvaluessurvey.org/
****Base de dados online da World Values Survey http://www.wvsevsdb.com/wvs/WVSIntegratedEVSWVSvariables.jsp?Idioma=I
***** Zenit, agência de notícias católica
******Center of Applied Research in the Apostolate, centro de pesquisa aplicada ao apostolado católico da Universidade de Georgetown  http://cara.georgetown.edu/CARAServices/requestedchurchstats.html
********Blog do Center of Applied Research in the Apostolate, centro de pesquisa aplicada ao apostolado católico da Universidade de Georgetown
http://nineteensixty-four.blogspot.com/2011/08/research-notes.html

Posted in | 1 Comment

Nossa Senhora de Kibeho


A aparição que profetizou um genocídio

Em 2007, quando estava nos EUA, eu assisti a um programa da rede PBS (mais ou menos uma TV Cultura pelo estilo dos programas) que me causou uma impressão muito profunda. O programa tratava da vida de Imaculée Llibagiza*, uma jovem que sobreviveu ao genocídio de Ruanda em 1994. Uma história tão importante quanto desconhecida. Em 1994, as duas principais etnias do país, tutsis e hutus, entraram em guerra civil, resultado de séculos de hostilidades de ambas as partes, o que deixou quase 1 milhão de mortos, o equivalente a 10% da população na época.

A história dela é impressionante. Sendo da etnia tutsi, teve quase toda sua família exterminada. Depois foi literalmente caçada pelos soldados hutus, sobrevivendo por um milagre. Imaculée passou 3 meses escondida em um banheiro secreto em uma casa paroquial junto com outras mulheres sem ser encontrada. O ápice desse drama foi quando os agressores começaram a revistar a casa em que estava escondida. Ela conta que ao perceber a presença da milícia hutu dentro da casa em que se encontrava, implorou a Deus que não morresse daquela forma.  Um soldado chegou a abaixar a maçaneta da porta, mas, sem razão aparente, foi embora.

Em seguida a milícia deixou a casa. Se fosse pega, Imaculée certamente seria estuprada e morta. Como ocorreu com centenas de milhares de mulheres.

Sobreviver a um dos maiores genocídios da história já seria algo impressionante, mas o que mais me chamou a atenção é que o programa não tratava da história de sobrevivência de Imaculée, mas sobre a possibilidade de amar em qualquer circunstância. Imaculée tinha no seu esconderijo apenas um Rosário que tinha ganhado do seu pai. Diz ela que durante esse período, rezava 27 terços e 40 terços da misericórdia por dia. Conta ainda que sentia como que se estivesse deitada no colo da Virgem enquanto rezava. E foi assim, comendo o suficiente para não morrer, que ela sobreviveu ao cativeiro.

Mais do que dar forças para sobreviver, a oração do Rosário formou aos poucos no coração daquela jovem de 22 anos o imperativo de perdoar aqueles que a perseguiam e que haviam brutalmente assassinado seus pais. E assim, ainda no cativeiro, ela aprendeu a perdoar seus inimigos e a deixar para trás qualquer sentimento de ódio e ressentimento. Depois ela teve a oportunidade de fazer um gesto concreto a este respeito, beijando um dos assassinos de seus pais.

Em uma noite, Nosso Senhor em sonho lhe disse: “Não tenha mais medo”. Hoje Imaculée vive nos EUA e desenvolve seu apostolado por meio de livros, entrevistas, retiros e palestras que tem como tema o perdão, o verdadeiro perdão cristão, e as mensagens de uma aparição mariana que ocorreu em Ruanda em 1983, Nossa Senhora de Kibeho.

Eu só tive conhecimento desta aparição neste sábado e achei que vale a pena falar um pouco a respeito. Durante quase 10 dos 15 que passaram desde minha conversão tive bastante reserva com relação à história de aparições e a devoção mariana. E espero continuar tendo uma postura crítica e racional diante dos fatos. Mas se o que realmente busco é a verdade, depois de ouvir ou ler testemunhas convincentes, examinar sua coerência com o Evangelho e as provas de conversão das pessoas envolvidas, não acreditar e não obedecer seria apenas fruto da minha indolência.

Em 1983, a Virgem Maria apareceu a três crianças de Ruanda. Uma referência segura sobre o tema também pode ser encontrado no site abaixo* e também referências neste outro site**, ambos de organizações conhecidas. Imaculée esteve em encontros com presidentes (George Bush lhe enviou uma carta e Obama já foi fotografado com o livro) e atualmente trabalha na ONU num programa de prevenção ao genocídio***. As mensagens da aparição que se tornou conhecida como Nossa Senhora de Kibeho falavam de guerras, mortes e um rio de sangue caso o povo de Ruanda não se convertesse. Exatamente o que ocorreu 10 anos depois. Assim como em Fátima, que previa uma guerra ainda pior do que a 1ª Guerra Mundial caso não houvesse conversão.

Maria não vem anunciar castigos, mas clamar por conversão para que nossos atos não nos destruam. E assim como em Fátima e em Lourdes, em Kibeho ela pede aos videntes que recitem o Rosário**** e ainda as 7 Dores de Maria, devoção que remonta à Idade Média. A recitação do Rosário, que preço tão baixo por um benefício tão grande, que seria poupar um milhão de mortes e um ódio imensurável que grassou sobre a Terra! O Rosário, que pedido simples, fardo levíssimo para converter os corações e nos ganhar a eternidade! O breve espaço de tempo entre as aparições e o genocídio chamam nossa atenção para a seriedade dos fatos.

Mas mais do que isso, ao vera história dessas aparições e tantas outras como Knock, La Vang, Siluva, que ocorreram em situações de desespero, fome, perseguição política e extermínio, penso naquela pergunta que muitos se fizeram diante de grandes catástrofes: onde está Deus? Pois a resposta que tenho com base nesses eventos é que Deus estava chorando por meio dos olhos de uma mãe aflita, clamando para que seus filhos se amassem.

A Virgem querida qual mãe zelosa não quer nos tomar nada e muito menos tomar algo de seu Filho. É por Aquele que disse “Mulher eis aí teu filho” que ela vem até nós, querendo que alcancemos a felicidade para a qual o Pai nos destinou. É por Ele que Ela vem até nós. Imersa nEle, nos sofrimentos dEle que são também os dela e devem ser os nossos. Por mais que nos esforcemos, muitas coisas (a grande maioria das coisas, na verdade) não conseguimos alcançar. Mas pela oração humilde e paciente, pela conversão do coração e pela fuga do pecado (e penso aqui em tantos pecados sexuais, corrupção e mentiras aos quais fomos aos poucos acostumando) podemos facilmente alcançar. Pela oração simples podemos alcançar a salvação do mundo e a nossa também*****!

Virgem Maria, rogai por nós que recorremos a Vós!

****Rosário aqui é utilizado como sinônimo de Terço
  • *****Oração que se sincera, obviamente implica obediência ao Evangelho e uma vida de acordo com os seus mandamentos.

Posted in | 2 Comments

Jesus ressuscitou mesmo?

É possível acreditar ainda numa coisa dessas em pleno século XXI?

No Domingo de Páscoa, a Folha de São Paulo e o Estadão nas suas versões online colocaram apenas fotos de confrarias de encapuzados e algumas fotos internacionais retiradas de agências de notícias sobre a Páscoa. Nenhuma imagem da Páscoa em São Paulo. Celebrar a Páscoa ficou parecendo algo exótico, algo que as pessoas comuns não fazem.

Para piorar a situação, um desses jornais, não me lembro qual, ainda deixou um link para um “especial de Páscoa com as coelhinhas da playboy”. E claro, notícias e notícias sobre o trânsito no feriadão. Pois é, o dia mais solene dos cristãos na maior cidade do maior país católico do mundo virou “feriadão”.

Justiça seja feita, o History Channel fez especiais sobre as aparições de Fátima e Guadalupe, de uma qualidade impressionantemente boa. E mais surpreendente ainda, com a fala de teólogos e padres católicos devotos. O especial termina dizendo que Maria uniu em si dois povos irremediavelmente separados pela violência e por visões de mundo totalmente distintas, fazendo nascer em si mesma, já que ela aparece mestiça antes de existirem mestiços, um novo povo, o México. Acho que em boa parte das Paróquias não se ouviu algo tão profundo assim.

A Ressurreição do Senhor foi marcada pela indiferença na maior parte do mundo católico.

Além disso, e mais grave do que isso, a crise de fé que a Igreja atravessou no século XX deixou uma profunda marca nos católicos. Afinal de contas, Jesus ressuscitou mesmo?

Se olharmos os Evangelhos veremos que eles discordam entre si sobre os detalhes da Ressurreição do Senhor. Simplesmente discordam daquilo que é o centro da fé cristã! Além disso, como não pensar que o que ocorreu foram alucinações, fenômenos psicológicos, catarse ou outros que depois foram ganhando contornos mais sofisticados nas comunidades que escreveram os Evangelhos?

Não seria mais razoável pensar que há um princípio absoluto no universo, mas indecifrável, como pensam os agnósticos, do que dizer que Deus se fez homem, nasceu de uma virgem e depois ressuscitou dos mortos? Ou não seria mais fácil parar de pensar nessas coisas e dizer que fé é fé e ponto e, portanto, não precisa de nenhum compromisso com a ciência ou com a história?

Afinal, por que eu acredito na Ressurreição de Jesus?

Quando tinha 13 anos, participei de um encontro para adolescentes. Fui participar desse encontro porque lá havia uma menina em que eu estava interessado, porque o lugar tinha um bom campo de futebol e muitos amigos meus estariam lá. Achei que seria ótimo.

No começo do encontro, antes da primeira palestra, foi entronizada uma imagem de Nossa Senhora. Eu me lembro de sentir um estremecimento interior, de ficar emocionado com a entrada da imagem. Idolatria, pensei. Quando todos batiam palmas, eu cruzei os braços. Não vou pactuar com essa idolatria, são emoções vazias, sentimentalismo. Não bati palmas.

Mas em uma das noites do encontro foi feito um momento de adoração, com a exposição do Santíssimo Sacramento. Durante a oração, os adolescentes cantavam, recitavam salmos e um diácono coordenava, passando a palavra a uns e outros e fazendo comentários.

Em um dos seus comentários, o diácono encontrou no chão um crucifixo de terço sem os braços e sem as pernas. Perguntou se era de alguém, não era de ninguém, e começou a fazer uma pregação a partir deste crucifixo. E ele dizia “estamos mutilando o Corpo de Cristo...”

Nesse momento me irritei. Tolerar as orações e o sentimentalismo de alguns era algo que eu podia fazer, agora escutar que eu, que não fiz nada, que levava minha vidinha de bom menino, que eu era culpado de mutilar o Corpo de Cristo, ah, isso eu não aceitei! Mas de alguma maneira fiquei intrigado e quis saber se aquilo tudo podia ser verdade. Olhei para o Ostensório no centro do salão e disse:
Se o Senhor é verdade, eu quero te conhecer.

Não consigo descrever exatamente o que aconteceu. Sei que eu imediatamente me senti pequeno, infinitamente pequeno, como se algo muito maior do que eu estivesse à minha frente. Uma Força diante da qual eu fiquei paralisado. De joelhos e de olhos fechados, me vinha ao pensamento um profundo sentimento de mediocridade. Medíocre, era essa a palavra que me vinha à mente. Me senti de mãos vazias, pequeno, culpado, minha vida até ali não valia nada, jamais tinha feito algo de bom para alguém, eu era apenas medíocre. Isso me causou uma dor profunda e enorme e eu sentia nojo e vergonha de mim.

Tomado por essa Força e com uma profunda dor interior, dor que jamais tinha sentido e depois nunca mais voltei a sentir, dor que eu acho que não suportaria por muito tempo, me arrependi. Não conseguia formular um pensamento sobre isso, mas me arrependi interiormente.

Imediatamente me senti profundamente amado.

Mas não era um amor como os amores que conhecia até ali. Era algo infinitamente superior, pleno, sentia um torpor e ao mesmo tempo um aquecimento interior, uma espécie de êxtase e sentia meu coração cheio, quente, pleno. E de olhos fechados eu tinha a sensação de que um homem estava à minha frente. E eu sabia que era o Senhor.

Este homem falava comigo interiormente, sem palavras. E sem formular um pensamento, eu tomei consciência que Deus é trino, que há três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo e um só Deus. Sabia que o Filho tinha morrido por mim por amor, para que eu tivesse vida plena e abundante, para me salvar pela vontade do Pai e o que o que se processava em mim naquele momento era obra do Espírito Santo. Não sei como explicar, só posso dizer que naquele momento tomei uma consciência instantânea dessas realidades.

Quando encerraram o momento de oração, esse ardor, esse calor interior, esse diálogo sem palavras que ocorria em meu interior não cessou. E eu olhava as pessoas ao meu redor e elas haviam se tornado irmãs para mim. Eu as amava com mais força do que tinha amado qualquer um até ali. E esse amor não era meu, era um amor que me foi dado. Percebi que “de repente” eu amava aquelas pessoas mais do que minhas irmãs, mais do que meus pais, mais do que a mim mesmo. Era um amor apaixonado, inteiro, devotado. Um amor que até ali eu não conhecia e me deixava como que embriagado.

E eu ficava repetindo em diálogo interior “Então o Senhor é verdade”...enquanto olhava para o céu estrelado. Eu nunca tinha percebido como o céu é lindo! E me dei conta que havia encontrado a chave que dá sentido à vida, à história, a tudo. De repente, era como se não houvessem mais espaços vazios, era como se o ar estivesse cheio de Deus. Eu estava diante do próprio Deus! E dizia também interiormente, “Senhor, como posso agora querer outra coisa. Eu quero o Senhor”!

Na minha cabeça, esse momento de oração havia durado cerca de 15 min. Mas depois que terminou, me dei conta que se passaram cerca de duas horas. Eu, um ateu prático, um dos milhões de católicos que não creem, havia passado duas horas de joelho e sentia o corpo leve, renovado, flexível, como se tivesse acabado de nascer, sem a menor dor ou desconforto.

Esse momento foi como um dia que não teve ocaso para mim. Esse diálogo interior com o Senhor nunca cessou. Esse fogo interior nunca mais me deixou. E os dias nunca mais foram os mesmos. Agora que lá se vão 15 anos desses fatos, me parece que todos os dias são um prolongamento daquele dia. É sempre como se tudo isso tivesse acontecido ontem. É uma memória que não envelhece. Depois conheci também o silêncio de Deus, muitas vezes me afastei dele pelos meus inúmeros pecados e às vezes me perguntei onde Ele estava, e se eu o havia abandonado...mas Ele nunca me deixou. Eu me apaixonei por Ele. 

Eu O vi.

Felizes aqueles que acreditaram sem terem visto. Eu não consigo me contar entre esses bem aventurados, como muitos que conheci também não. Embora sem imagens, eu vi o Senhor. E testemunho que Ele ressuscitou dos mortos.



Posted in | Leave a comment

Quanto vale uma mulher hoje?

Vivemos numa época de muita comparação. Ninguém vale pelo que é, mas pelo fato de ser melhor ou pior do que alguém. Valemos se vencemos este ou aquele padrão de comportamento, seja no trabalho, seja mesmo na vida em casa. Sempre há uma referência de comparação: um(a) colega de trabalho, um(a) vizinho(a), um(a) amigo(a). E há círculos de comparação dos mais diversos, entre workaholics, entre hippies... e, infelizmente, dentro das Igrejas. E o pior de tudo é que quem nos atribui este valor em termos de comparação é na maioria das vezes a gente mesmo.

Irmão Roger, fundador da Comunidade de Taizé (www.taize.fr), uma vez escreveu uma oração muito simples no final da Newsletter dos Irmãos de Taizé que me marcou profundamente: “Não nos comparemos com ninguém, porque nisso não há bem algum”. Podemos nos comparar para mais, nos achando melhores que os outros e caindo no pecado do orgulho, ou ainda para menos, caindo em diversos problemas decorrentes da baixa autoestima, ou pior ainda, na inveja.

A comparação rompe com uma verdade fundamental em cada um de nós, a de que somos todos profundamente diferentes e que, no final das contas, cada vida é uma jornada única. Podemos encontrar similaridades com outras vidas, mas nunca igualdades. Quando aceitamos essa verdade fundamental, encontramos paz. Cada jornada dessas é desejada por Deus, amada de modo especial e só pode ser feita pelo peregrino a quem Ele confiou.

Poucos se atentam para o mau que a inveja causa na alma. Por inveja, as autoridades judaicas mataram Jesus. Por inveja, muitos santos foram maltratados dentro de suas próprias comunidades, quando o que levavam era a salvação e a alegria para seus irmãos para que chegassem todos juntos à mesma santidade. Nos perguntamos muito se somos invejados, mas será que nos perguntamos o suficiente se somos nós os invejosos?

A tradição católica nos ensina que o melhor remédio para a inveja, e o melhor escudo para não cairmos nela, é a admiração. Diferente da comparação, a admiração nos leva a imitar aquilo que admiramos naqueles que consideramos melhores do que nós. Diferentemente da comparação, o admirador deseja de certa maneira ser parte do mundo da pessoa admirada. Podemos pensar como cristãos que podemos aprender com o outro e chegar com ele(a), como quem escuta a um irmão(ã) mais velho(a), à mesma alegria em Deus.

Por isso, espero, com a Graça de Deus, ensinar minha filha a admirar algumas das grandes mulheres que conheci em minha vida. Àquelas que pacientemente souberam suportar familiares difíceis, tantas vezes o próprio marido, e, com paciência e oração, lhes dobraram aos poucos o coração, para que ambos encontrassem a salvação. Àquelas outras que com suor e lágrimas, submetidas a muitas dores e sofrimentos sustentaram suas famílias, muitas vezes sozinhas. Que ela saiba admirar as mulheres silenciosas que fazem o trabalho necessário e útil, sem se preocupar com as aparências, principalmente na Igreja. As que estão prontas para acorrer às famílias pobres, a assumir as pastorais que foram abandonadas pelos outros pela falta de status ou pelo excesso de trabalho e escolheram sempre estarem ocultas e disponíveis. A todas as mulheres fortes, destemidas e corajosas.

E todas as mulheres de sua idade e do seu meio que forem admiráveis.

E que ela saiba ainda conservar a pureza e a inocência, colunas da verdadeira sabedoria. Que ela saiba, quando for mais velha, a ensinar com seu exemplo a grandeza e o valor da devoção à Maria, a Grande Mãe de Deus, a Imaculada. Algo que então para mim era secundário e até supérfluo, mas que se tornou central quando pude ver na vida de uma mulher. Que, com a Graça de Deus, minha filha tenha a alegria de ser sinal da dignidade com a qual Deus ornou todas as mulheres em Maria, a nova Eva.

1 Comment

João Paulo II e o serviço secreto polonês

Não bastasse ter sofrido um atentado no dia 13 de maio, data da 1ª Aparição de Nossa Senhora em Fátima. Não bastasse ter Nossa Senhora em Fátima ter profetizado entre outras coisas fatos que ocorreriam na vida do próprio João Paulo II. Não bastasse ainda o assassino (ou quase) ter achado um milagre ele ter errado daquela distância. E não bastasse também São Padre Pio ter profetizado que João Paulo II seria Papa, uma biografia escrita por um americano apresenta um fato bastante interessante da vida do querido Papa.
Durante a luta de João Paulo II contra o comunismo na Polônia, a polícia secreta procurou plantar provas no apartamento que havia utilizado em Cracóvia para desmoralizá-lo. Um diário falso em que uma faxineira que trabalhava na época para a diocese teria revelado ter tido um caso com o Papa no tempo em que era Cardeal na Polônia. A idéia era chantagear e minar a credibilidade de João Paulo II. Tudo ia bem com o plano, até que num belo dia, um dos agentes secretos enche a cara, bate o carro, a polícia chega e ele conta todos os detalhes do que tinha acabado de fazer.
Deve ter sido uma ressaca terrível. A história é no mínimo curiosa, mas vale a pena ser analisada, pois o mesmo agente foi depois responsável pela morte de um importante ativista do partido Solidariedade.
Se for comprovada a história, vamos nos perguntar não se o processo de beatificação tem sido rápido demais, mas pelo contrário, se não deveria era ir mais rápido ainda.
A notícia completa está publicada em:

Posted in | 1 Comment

8 Padres Jesuítas que Sobreviveram à Bomba Atômica

Que os Jesuítas são os verdadeiros ninjas da Igreja eu já sabia. Que boa parte dos lugares mais inóspitos do mundo tem uma vielinha mata adentro chamada “Caminho dos Jesuítas” isso também não é novidade. Mas essa reportagem do Catholic Herald me surpreendeu. E ainda mais pelo fato de ser tão pouco conhecida.
Em meio à carnificina da bomba de Hiroshima, em que tantas vidas inocentes se perderam, uma casa de uma pequena comunidade jesuíta de oito integrantes não sofreu nenhum dano durante a explosão, estando apenas cerca de 1 km do ponto de impacto. Ao redor tudo foi devastado. Os jesuítas também não sofreram nenhum efeito da radiação e morreram de outras causas décadas depois, sendo que nos seus últimos anos de vida contaram sua experiência para o mundo.
Ao refletir sobre as causas desse milagre um dos padres respondeu que ali se vivia a mensagem de Fátima e se rezava o terço diariamente.
Dias depois, quando foi a vez da cidade de Nagasaki ser bombardeada, foi um convento fundado por S. Maximiliano Kolbe que ficou intacto. Ao escolher o local do convento ele havia sido muito criticado, mas foi exatamente a sua localização atrás de uma montanha que impediu a devastação e a chegada da radiação. É conhecida também a devoção do Santo à Virgem Maria.

Posted in | Leave a comment